domingo

Los Abrazos Rotos


Acabo de me dar conta de que nunca escrevi nada sobre Almodóvar por aqui.

Acabei de assistir Los Abrazos Rotos e escolhi ele para preencher esta lacuna.

Belíssimo é a primeira coisa que me vem à cabeça. Depois penso em ternura, paixão, carinho, ciúmes, cumplicidade, talento, justiça.

O roteiro é muito bem elaborado. Dessa vez ele descreve com doçura a alma do homem (e hetero) pela pele de Mateo Blanco, ou Harry Caine, nome que passa a adotar depois do acidente.

Na verdade, não quero falar muito sobre ele porque acabei de assitir e ainda não consigo traduzir minhas emoções.

Digo que Blanca Portillo está estupenda, assim como o próprio lluis Omar. Digo que Penélope Cruz, que na minha opinião desta vez perde para Blanca Portillo, traduz toda a ternura de sua personagem e que a fotografia é belíssima, e não estou falando do habitual supercolorido. E digo também que Tamar Novas, além de ótimo ator é um colírio para os olhos que deixa qualquer Moura Brasil no chinelo.


e digo mais: a trilha obviamente é de Alberto Iglesias e desta vez me surpreendeu com uma canção da Cat Power trilhando uma cena belíssima. Arrasou, Alberto!

O filme que acontece dentro do filme é praticamente um pupurrí de todos os filmes do Almodóvar. Mostram pouquíssimas cenas, mas é como se fosse uma auto caricatura feita por ele próprio.

Pra fechar, tenho que dizer que a cena em que Mateo toca a TV para ver ao seu modo a cena do último beijo é de uma sensibilidade que somente Almodóvar pode ter.

Obrigada ao fofíssimo Maicon por me emprestar o DVD, já que eu estava praticamente me traindo por não ter assistido até agora.

Alta Fidelidade

Pense nas 5 coisas preferidas das sua vida.

Você seria mesmo capaz de classificar tudo em TOP 5? As músicas, os filmes, as pessoas, as situações...

Pois é. Assisti Alta Fidelidade na época em que o filme foi lançado e esse assunto voltou à tona recentemente. A trilha eu não tinha, tinha apenas a versão fodástica de Let's Get It On com o Jack Black, que a Tati me passou um tempo atrás, e que agracia o filme em determinada parte. Agora ouvi a trilha completa. Animal.

Tão delícia a trilha que logo me deu vontade de ver o filme outra vez e aí assisti e foi delícia completa.

Aí comecei a ler o livro que originou o filme.

Não teve jeito, só faltava blogar. E ca estamos.

John Cusack está ótemo no papel de Rob, dono de uma loja de discos e que cultiva o hábito de classificar tudo em TOP 5. Tarefa difícil essa, na verdade. Costumava jogar as coisas no meu TOP 10, até porque a vida é repleta de coisas boas que vão nos atropelando pelo caminho. Reduzir tudo isso pra 5 fica difícil.

É um filme muito bacana, adoro o fato de ter e falar de música o tempo todo, afinal, boa parte dele se passa na loja de discos. Também adoro como o filme se passa, em forma de narrativa do personagem principal, igualzinho ao livro. É tudo muito bom.

Adoro como Rob pensa sobre as coisas, adoro o jeito como o ciúme se manifesta nele, adoro o apartamento dele, como abordam a crise da meia idade, os diálogos com os clientes da loja, a cena do tal do Ian indo lá na loja falar com ele me fez rir litros, as piadas inteligentes. Tipo, é tudo muito, muito bom.

Sabe uma curiosidade legal? O próprio John Cusack participa da elaboração do roteiro.

E a trilha, ah! my friend, a trilha é demais, neh. É praticamente mais um personagem do filme. E foi escolhida a dedo pelo Carter Burwell e pelo Howard Shore. os dois são meus tesourinhos e por isso não me surpreendi quando descobri que os créditos para Alta Fidelidade iriam pra eles. Carter Burwell foi quem trilhou todos os filmes dos Cohen (falei dele em Um Homem Sério) e Howard Shore trilhou O Aviador (ainda preciso comentar essa trilha, é muito foda), O Silêncio dos Inocentes, Dogma, Seven.


Já sabe: veja, ouça e me conta o que achou.

Ps. Adoro o cartaz do filme.





Up in the Air ou (Minha Vida Entre parênteses)

Pois é minha gente, olha a situação desse cara: o emprego dele é viajar o mundo pra demitir pessoas. Sim, isso mesmo. Ele faz o trabalho sujo. Vai de empresa a empresa mundo afora pra fazer o que a maioria dos chefes não tem muito estômago pra fazer.

Lembrei da primeira demissão que precisei fazer: não concordava com o motivo dela e pior, a pessoa era próxima a mim. Ela ficou mal, chorou, eu chorei, nos abraçamos.

Infelizmente agora aprendi como fazer e não me envolver demais.

Mas o emprego do cara tem um lado que me atrai. Essa coisa de não parar em lugar nenhum, de viver por aí, sempre me passa pela cabeça. No fundo eu sei bem o que é isso; como para o personagem do filme, não passa de uma fuga.

Esse filme surgiu de um livro, coisa que tem me atraído muito recentemente. Fuçando num sebo, dia desses, achei o comprei O Leitor e Correndo com Tesouras. Já tinha ganhado o Alta Fidelidade (presente perspicaz, inclusive), o que me despertou para o assunto. Acho que começa aí uma boa coleção: a de livros que deram origem a filmes. Junto, então, três grandes paixões: músicas, livros e filmes.

Me identifiquei com diversas situações do filme. Essa coisa de desacreditar no casamento, em ter filhos, cachorro e tudo isso já foi uma das minhas convicções. Hoje penso diferente. Em todos os sentidos. Acredito no casamento, filhos, mas não desse jeito quadradinho. Até porque estou looonge de ser uma pessoa quadrada. Tudo na minha vida é fora do padrão.

Mas o que me pegou mesmo é quando ele percebe que encontrou sua cara metade e bate à sua porta. E dá de frente com uma realidade totalmente frustrante. Quando ela diz que ele é um parênteses em sua vida, cara... há tempos não me sentia tão sozinha. Eu, que já fui Helena encaixotada, na minha atual situação às vezes me pego entrando no caixote novamente. Foda.

Mas voltemos.

Ultimamente tenho feito algo bem diferente. Estou ouvindo os filmes antes de assisti-los. Baixei uma tonelada de soundtracks e ouvi todas cuidadosamente pra depois ver os filmes. Divertido isso. Havia feito uma vez e me decepcionei, por isso estava arisca pra tentar novamente. Um tempo atrás baixei sem querer a trilha de um filme chamado The Last Kiss. É um score. Uma das minhas OSTs preferidas da minha ampla coleção. É demais, encantadora, ouvia sem parar. Aí assiti o filme e achei ele péssimo! Mas dessa vez foi diferente. Estou adorando cada um.

Com Up in The Air foi assim: comecei a ver o filme e logo de cara curti o som e pus a trilha pra baixar. Mas dormi antes que o filme engrenasse, só que a trilha já tava na mão. Passei uma semana ouvindo e adorando cada música. Só depois vi o filme e adorei também, apesar das sensações que descrevi.

Não posso deixar de comentar que Up In The Air (ou Amor Sem Escalas, como foi traduzido) é do Jason Reitman, que dirigiu Juno também.

A trilha, que foi impecavelmente selecionada por Rolfe Kent, que trilhou Sideways e a abertura da série Dexter. Não preciso falar mais nada, né? Mas digo que tem Sharon Jones, Grahan Nash, Elliot Smith, Roy Buchanan, duas composições do próprio Rolfe e outras cositas mais que vão agraciar seus ouvidos. Muito, muito boa.

Então ta. Um beijo.






segunda-feira

Comer, Rezar, Amar





" Às vezes, perder o equilíbrio por amor faz parte de viver a vida em equilíbrio"

Passei um tempo querendo e não querendo ler esse livro porque tenho um certo preconceito com best sellers.

Aí o Neto viu o filme, se encantou e disse que eu tinha porque tinha que ver. Como eu confio em seu bom gosto e ele tem se tornado alguém capaz de me me entender muito bem, resolvi pular o livro e ir direto ao filme.

Ah, mas que putaqueopariu! Ri, chorei, me identifiquei demaaaaais da conta!

E tem mais. né: dirigido pelo Ryan Murphy, do Correndo Com Tesouras e com uma trilha encantadora.

Pra começar que o Eddie Vedder compôs uma música linda de viver especialmente pro filme e gravou outra com ninguém menos que Nusrat Fateh Ali Khan. Tipo, demais.

Na trilha também tem duas belíssimas do Neil Young, tem Marvin Gaye, Josh Rousie, Bebel e João Gilberto, Sly ans The Family Stone, Gato Barbieri, Dario Marianelli, Michael Tyabji. Você vai se apaixonar.

Acho também que a Julia Roberts nunca esteve tão bonita.

Mas olha só, não é apenas mais um filme de menina, sabe?

É um filme de paixão. De entrega. De autoconhecimento. De amor.

É que eu tenho a cabeça no lugar e nenhum tostão no bolso, senão já teria pego uma mochila e saído por aí. Isso vai acontecer, mas não agora.

Acho que a minha palavra de ordem de uns tempos pra cá tem sido CORAGEM.

Coragem pra tomar grandes decisões, coragem pra falar sobre meus sentimentos abertamente, coragem pra me meter em situações que eu não sei onde vão me levar, coragem pra entrar num jogo pra ganhar, coragem pra fazer coisas ainda não feitas, coragem pra viver perigosamente, coragem pra reconhecer erros, coragem pra buscar quem eu sou.

E essa busca, acho que essa busca por si próprio é natural do ser humano. Porque a gente se perde com muita facilidade.

Sei bem como é essa coisa dela se ver no relacionamento perfeito, o marido perfeito, e não ter mais forças pra deitar na própria cama. Porque ela se desencontrou em algum momento. depois ela encontra um cara supimpa, que mostra outro mundo pra ela, faz ela olhar pra dentro de si. E acho que era essa a única missão dele na vida dela. Porque mexeu tanto que ela não poderia mais continuar com ele. Porque ainda não se achara. Tinha que continuar procurando.

E assim que ela se encontra, finalmente encontra seu grande amor e olha só: pensa que ainda não está pronta para o amor. Porque não aceitou o amor por si própria. Coisa louca isso.

É que falar é fácil, né? Viver é que é foda.

Eu tava falando hoje do quanto eu sou movida por paixões. Se não fosse apaixonada pela vida, por gente, por mim mesma, seria tudo tão mais difícil.

E quando encontro alguém apaixonante eu me jogo mesmo justamente por conta do que tava falando outro dia por aqui, tipo, e se hoje for o último dia da minha vida?

Mas é que às vezes a paixão dói um tanto no coração. Olha que engraçado, eu que nunca fui de sentir ciúmes, desses danados de ruim mesmo, senti uma pontada aguda dele hoje mesmo. E me espantei com isso. Que será que tava me acontecendo? Fiquei de cara comigo mesma, uma sensação um tanto incômoda. Passei a mão num cigarro que alguém esqueceu aqui ontem, peguei no isqueiro mas não acendi (boa, to conseguindo resistir bravamente!). Aí pensei: que que o Caligaris fala mesmo sobre o ciúmes? Fui lá no twitter do cara e dou com essa frase: "Alguns não aceitam que, na vida do outro, um desejo qualquer se manifeste. Preferem amar cadáveres". E, na sequência, essa: "Alguns se preocupam em marcar o território e, com isso, se esquecem de percorrê-lo e apreciá-lo". Depois mais essa: "Muitos esperam ter razões para ser ciumentos. Só conseguem amar e desejar na insegurança, na suspeita de estar sendo traídos" e por fim: "Poucos amam a liberdade total de seu parceiro ou parceira. Paradoxo: quando isso é recíproco, a fidelidade é tb total".

Valeu, Contardus. Um passar de olhos por poucas frases e já pude voltar ao normal. E pro meu normal, viver é se permitir e permitir que o outro se permita. Aí, pra fechar, vem o Raul:"Amor só dura em liberdade".

Assim, não posso me deixar levar pela tristeza. Não mesmo. Quando ela vem, eu deixo ela ficar um tiquinho, mas o suficiente pra eu lembrar do quanto o oposto é bem melhor.


Por que eu to falando disso? Porque é isso que acontece quando vejo filmes. As coisas saem de dentro de mim e eu preciso lidar com elas. A arte me emociona ao ponto de revirar minha casinha, sabe?

E a personagem desse filme lindo, em dados momentos, serviu-me de espelho e só alimentou ainda mais minha expectativa de sair por aí, em busca de não sei o que, em busca talvez de mim mesma. Mas pensando nisso, penso em outra coisa: será que essa necessidade quer dizer que não estou feliz? Mas me sinto tão feliz. Acho que no fundo me sinto é um tanto frustrada por estar sozinha. Mas não era o que eu queria? era, até pensar que poderia não estar e isso seria um máximo. Mas não dá pra ser do jeito que eu quero. Seria eu, então, uma egoista? Me rendendo às necessidades do meu próprio ego? Oras, mas é errado então querer que as coisas dêem certo?

Espero que esse vômito me sirva de alguma coisa, espero que eu possa ler esse texto amanhã e depois e depois e já ter pelo menos metade dessas idéias mais claras na minha cabeça. Porque hoje, nesse exato momento, eu vivo na corda bamba da dúvida e da insegurança. Talvez o que me aflija seja justamente não ter o controle da situação. Talvez seja mais fácil encarar isso como mais um teste de paciência e auto confiança. Vou encarar assim! Já deu um certo alívio... Visto que hoje já comi e rezei, já tenho planos interessantes para os próximos dias. = ]








Mary & Max


Então, primeiro eu tenho que agradecer a Rosana Campos Prado Morel Bertolini pela dica incrível. É que desde criança a gente pira em animações de massinha e logo que ela assistiu ela veio me contar e ficavba perguntando: já viu Mary and Max? Já viu Mary and Max?

Rô, vi ontem e me apaixonei!

Adoro quando as pessoas assistem algum filme ou coisa do tipo e vêm me falar pra ver porque eu vou amar, porque é a minha cara e tal. Aí mostram o trailer, falam da trilha, que eu tenho que ver por tudo que é mais sagrado. Porque eu crio uma expectativa que eu adoro, aquela coisa de ficar olhando no utorrent pra ver quantos % faltam pra eu assistir, vou lá comprar pipoca e tal.

Enfim, bora lá.

Mary and Max é uma animação feita prinecipalmente com massinha que inunda o olhar pelos detalhes e cores. Todo em sépia e PB, que eu amo, ele é todo redondinho: também pelas formas, claro, mas quero dizer que é 10 em tudo: no enredo, nos personagens, na trilha, na galera que dublou, tudo. (pode por dois pontos duas vezes na mesma frase? como eu acho que pode tudo e nunca reviso os textos deste blog, foda-se).

Então, vamos por partes.

Mary é uma garotinha australiana de oito anos sem amigos, sem carinho, com a auto estima quase zero, sem a presença dos pais (estão lá mas estão sempre ausentes: a mãe uma alcóolatra estúpida, o pai um funcionário de linha de produção frustrado e deprimido). Como não tem amigos (além do galo, claro) mas tem uma mente incrivelmente criativa e astuta e precisa dividir com alguém o que se passa nessa cabecinha, com a desculpa de querer saber de onde vêm os bebê do outro lado do mundo, resolve escrever para Max (encontrado aleatoriamente numa lista telefônica) e começa uma longa amizade platônica.

Max é um judeu não ortodoxo norte americano, obeso, sem amigos (além dos peixinhos dourados, claro) e com Síndrome de Asperger, que é uma coisa tipo um autismo/sociopatia/bipolaridade (falando toscamente) que justifica seu comportamento que varia entre essas três coisas.

Quem dubla os personagens principais são Phillip Seymour Hoffman e Tony Collette, que eu já amo por princípio e dão o tom exato de emoção aos personagens. Muitas palmas e manifestações ululantes pra eles, por favor.

Está longe de ser uma animação bobinha pra crianças sobre amigos de lugares distintos no mundo que passa a vida a compartilhar suas desventuras através de cartas.

O jeito como eles abordam questões como o sexo, o alcoolismo, a confiança, as doenças mentais, o suicídio, a superação, a exclusão, a indiferença, a religiosidade,os relacionamentos é pra rir e chorar sem ficar pesado ou chato, falando de coisas que permeiam o mundo dos adultos e das crianças pelo ponto de vista dos personagens, claro, mas que facilmente nos coloca no lugar deles e certamente toca a cada um de nós de alguma forma.

A trilha, que na verdade é um score de melodias belíssimas é de um cara chamado Dale Cornelius e caiu como uma luva bem macia em cada uma das cenas. Acho que desenhos e animações com trilha instrumental rica em pianos é sempre incrível e emocionante.

Não conhecia o Dale Cornelius até Mary and Max nem achei ainda a OST pra baixar, mas tem esse site dele, bacaninha, onde dá pra curtir suas composições e pesquisar mais.



Então, lenço de papel ninóis, porque o que seria de nós, humanos, se não fosse essa incrível capacidade de nos emocionarmos? Certamente seríamos menos humanos. E o pulso ainda pulsa.





domingo

Boogie Nights




Ow, sério mesmo, esse filme é demais!!

Retrata a indústria pornô dos anos 70 aos 80 naquela fase em em que os atores eram verdadeiras celebridades bigodudas.

O cineasta Jack Horner, interpretado bravamente por Burt Reynolds (se não me engano até levou um Oscar por isso) conhece um jovem sedutor dotado de um imenso e lindo pau, que causa frisson pelo seu desempenho em frente as câmeras e vê seu negócio deslanchar absurdamente.

O filme é embalado pela melhor seleção de Disco Music que eu já ouvi (ok, deve ficar pau a pau com a de Superbad, uma hora escrevo sobre essa também) e isso é tudo o que eu tenho pra falar sobre a trilha, que me deixou no maior comichão de organizar uma festa ou pelo menos duas horas de discotecagem disco em algum lugar sem ter que me preocupar em montar playlist - é só dar play.

É incrível porque o filme mostra cenas das gravações dos pornôs, tipo, mostra gente trepando o tempo todo, muuuito hedonismo, sem mostrar nada além de peitos e bundas (claro que eu fiquei de cara quando mostraram o bem aventurado pau do Eddie Dirk Diggler - esse nome é sensacional - porque eu achei que não aconteceria).

Tem muuuuuito pó passando pelo nariz de todo mundo, a decadência que vem de brinde, tem a xuxuzíssima Rollergirl que não tira seus patins nem pra trepar, um figurino estupendo e tem ela, a estonteante Julianne Moore (já falei do quanto eu amo essa mulher, né?) ahazando na interpretação, principalmente numa cena em que passa horas num quarto cheirando e falando e pirando com a Rollergirl e te faz pensar que não é possível, ela deve ter cheirado de verdade pra fazer aquela cena ou então fez um laborátório e tanto e real pra construir sua personagem. Por que as ruivas têm que ser tão maravilhosas?

Ó, é de 2007, muitos já devem ter visto, mas quem não viu tem que ver. Questão de honra.





THE BIG LEBOWSKI



Tem tanto tempo que eu quero falar dessa OST, mas sabe como eu, meu drama com os Coem: a dificuldade de falar de coisas nonsense sem parecer punheta intelectual, mas tenho ouvido tanto e falado tanto desse filme ultimamente (pessoas em comum asistindo, gravei pra uma pá de gente e virou assunto de novo) que acho que agora vai ser mais fácil.

Pra começar que o Dude é aquele anti-herói que acaba virando seu herói justamente por isso. O cara é o MAIS figura. O cara não faz mais nada da vida a não ser curtí-la à sua maneira: jogando boliche com seus amigos igualmente figuras (o esquentadinho traumático de guerra Walter me fez rolar de rir inúmeras vezes), fumando um quando e onde quer que seja, curtindo seu apê com banhos de banheira à luz de velas e tomando uma birita.

Só que o cara se fode quando descobre que um homônimo seu é um baita de truqueiro, envolvido em mil tretas e sangue ruim pra caralho. Aí ele se envolve numa onde de sequestros, subornos, mulheres, polícia, pancadaria, alucinações e por aí vai.

É divertidíssimo como eles criam as cenas de quando dude leva um coro ou chapa a cuca de alguma coisa. Ele sempre entra numa piração de que tá voando em cenários psicodélicos, mil mulheres, um barato. Bem a cabeça viajandona dele mesmo.

E o som, dude, o som é demais. Tem o som que o próprio Dude ouve, tipo Creedance, Bob Dylan (The Man in Me, que abre o filme), essa coisa toda hippie que é ducaralho. Tem a cena do escroto do Jesus no boliche e sua dancinha formidável ao som da melhor versão de Hotel California que é a transloucada dos Gipsy Kings (vai o vídeo aí embaixo pra dar aquela vontade de assitir o filme todo), a maravilhosa Dead Flower ultra country e que eu adorei com Townes Van Zandt, tem uma ótima do Elvis Costelo. As instrumentais também são muito boas, tipo Stamping Ground, tem minha indiscutível Nina Simone e as transloucadas Ataypura (Yma Sumac, tá ligado?) e Meredith Monk gemendo gostoso em Walking Song. Tipo, tem de um tudo.

Vai lá e depois me conta.



Running with Scissors


Então, é que seria trágico se não fosse cômico.

Além da trilha sonora espetacular, que já comento, Correndo Com Tesouras é um dos filmes mais bacanas que eu já assisti.

Bem do jeito que eu gosto: famílias excêntricas, pessoas confusas, dramas homossexuais, disco music, gente completamente louca, psiquiatras insanos, drogas, anos 70, confusão... um prato cheio pra mim.

Quando eu disse que seria trágico se não fosse cômico é porque não se trata de uma comédia, como muitos críticos disseram na época. É um puta drama do caralho.

Estamos falando de um garoto cujos pais abandonaram no seio da família mais excêntrica da face da terra, os Fich. Foi assim, o pai alcoólatra, lindamente interpretado por Alec Baldwin, não sabe mais com lidar com sua alucinada esposa (juro, eu daria todos os prêmios de interpretação para Annette Bening), poetisa sem um único livro publicado que fez de seu filhouma criança fora do normal (não, não vamos discutir o que é normal senão não vou parar de escrever nunca mais em toda a minha vida). Ela pira e vai fazer terapia com Dr. Finch, psicólogo típico de uma geração de psicólogos surgidos nessa época: mente abertíssima pra tudo o que for possível, abraça todas as terapias mais subversivas, louco de pedra e que mantém uma família absurda composta também por filhos de pacientes que precisaram ser internados.

É nessa onda que Augusten vai parar na casa dos Finch, completamente abandonado pela mã que já não pode mais falar por si pois já vive em seu universo particular dominado hora pela bipolaridade ora pela paulada que é o efeito dos fortíssimos medicamentos ministrados pelo Dr. Fich, das quais ela se torna totalmente dependente (aquelas coisas da época tipo Valium, saca?).

E Augusten é um cara demais, com uma mente incrível e mesmo sofrendo lida de uma forma belíssima com toda a situação pra lá de alucinante.

Beleza.

Agora a trilha.

Chamar essa trilha de sensacional é fazer pouco caso dela. O lance todo começa em 1971 e beira os 80's. A trilha reflete todo um comportamento não só daquela geração mas dos próprios personagens. Tem uma cena ótema do Auguste com a "irmã"sádica arregaçando o teto da cozinha meio que pra contestar a total liberdade que permeia a educação que o "pai " Finch quer dar à eles ao som de uma das músicas que eu mais gosto no mundo que é Year of The Cat do All Stewart, tem average White band com uma das disco music mais delícia pra dançar depois do almoço Pic Up The Pieces, tem Elton John com sua formidável Bennie And The Jets, tem a gracinha-demais Catherine Feeny com Mr. Blue e por aí vai (listei minhas preferidas mas tem muita coisa bacana).

E é isso aí. Quer uma dica? Sizoga. Filmão, trilha idem. APOSTO que você não vai se arrepender.

Beijomescreve.




Um Homen Sério





Eu não ia escrever sobre esse filme se não tivesse me encantado com a trilha enquanto assistia. Porque não é fácil falar de algum filme dos Coen. Não é que seja complexo, é nonsense mesmo.
E as vezes dá preguiça justificar o porque de gostar de algo nonsense, mas bora lá.

Apesar de ter visto vários filmes dos Coen, nunca havia baixado nenhuma trilha. Assisti Um Homen Sério esses dias e durante o filme dei uma pausa e já pus pra baixar.

E o filme é demais também. Sempre, né. Adoro esse lance deles falarem das pessoas que se fodem grande. Pense numa merda bem grande da sua vida. Eles adoram falar sobre isso.

Larry Gopnik, absurdamente bem interpretado por Michael Stuhlbarg, é um judeu passando por um momento de Jó. Tá tudo muito, mas muito foda na vida dele e ele começa a se perguntar o porque de tudo isso. O humor negro é o tempero e a forma como a questão da fé, da cultura, das tradições é demais.

A mulher dele pedindo o divórcio porque vai casar com um amigo deles recém viúvo e ele nem imaginava, o filho é um maconheiro prestes a fazer barmitzva ( e que é tipo hilário), a vizinha gostosa que faz topless no quintal e tem um marido ogro, alguém o difamando por cartas ao reitor da faculdade enquanto ele espera uma promoção, o irmão pirado e por aí vai.

Acho demais uma hora que o pai de um aluno que tava propondo um suborno pra não perder a bolsa da faculdade vai falar com ele, que não quer aceitar o dinheiro. Aí o cara fala: "aceite o mistério'. É demais isso pq o Larry tá naquelas de falar com os rabinos pra entender e achar uma explicaçào pro porque de tanta merda na vida dele. Essa coisa de se voltar pro desconhecido pra justificar algo conhecido e procurar culpados em tudo, até em si.

Ah, é. A trilha. Viu como é foda escrever sobre coisas nonsense?

Então, a trilha é de um cara chamado Carter Burwell. E esse cara trilhou todos os filmes dos Coen. É um score, na verdade, né. Um score magnífico, aliás, muito mesmo. Carter Burwell também trilhou Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (aaamo esse filme), umas músicas do Crepúsculo, Velvet Goldmine, Adaptação... Acho que já falei dele em algum outro post, né? Qual foi?
Ah, e tem Jefferson Airplane em uma música que eu adoro chamada Today.

Enfim. Adorei tudo.

Como eu sempre digo: veja, ouça e bom proveito.


quarta-feira

Me and You and Everyone We Know




Sabe aquele filme que te deixa de cara 100% do tempo? Então.


Miranda July, atriz, diretora e artista plástica fez algo realmente justo. Mostrou faces dos relacionamentos e cotidianos de pessoas comuns, como eu e você, em situações (sim!) comuns, pelas quais eu ou você passaríamos mas costumamos dizer que não ou nem dizer.


Nem sei o que escrever, na verdade. To aqui um tempo já, tentando pensar em alguma coisa, pq a cada cena que eu lembro fico tentando traduzir e não consigo. Tudo é conceito e anti-conceito. Aí não dá, senão vira tese ou papo de intelectualóide artístico e pra isso eu não levo jeito.


Então eu vou fazer assim, vou falar que é um filme totalmente ímpar, a trilha sonora é muito boa, muito diferente do comum, aliás, o filme todo sai do comum, tanto que muita gente acha que é de mau gosto, mas isso é só uma forma de negar o que é tão comum que está dentro de você.


Não entendeu nada, né?


Veja o filme e ouça a trilha, que é do mesmo cara que trilhou o Donnie Darko (dá uma fuçada aí no blog que tem post desse filme) e tem coisas incríveis que eu confesso nunca ter ouvido antes.


Falei tudo e não falei nada. Odeio quando isso acontece. Mas, enfim, acontece.




))<>(( FOREVER

FUR - An Imaginary Portrait of Diane Arbus

Esse é o tipo de filme que quando acaba eu faço uma pausa pro cigarro, aperto o play e vejo de novo.

Absolutamente encantador em todos os sentidos. A começar pelo fato de ser sobre Diane Arbus, fotógrafa que sempre admirei, e pela minha já confessa paixão pelo bizarro. Mesmo sendo uma elocubração sobre o que teria inspirado Diane a abandonar sua vida morna e se lançar em clicar um universo cuja beleza está nos olhos de raros. O filme é baseado na biografia assinada por Patricia Bosworth.


Nicole Kidman está mais uma vez fabulosa, mas espetacular mesmo é a interpretação de Robert Downey Jr. , coberto por longos pelos no corpo inteiro, transmite no olhar toda a riqueza, estranheza, encanto, paixão e curiosidade de seu personagem. Falando sério? Eu também me apaixonaria por ele exatamente daquele jeito.

De roteiro muito bem escrito, o desenvolver dos elementos simbólicos que surgem ao longo do filme é bem marcado. O marido deixando a barba crescer quando percebe que está prestes à perdê-la para Lionel, o lance de Lionel sobreviver fazendo perucas de seus próprios pêlos (e mesmo seu nome), o casaco que ele faz para Diane, a forma como ele parte...

No caso de FUR, a trilha é um Score. E, olha, um score incrível. Composta por Carter Burwell, que trilhou os filmes dos irmãos Coen, Velvet Goldmine, Adaptação, Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto e outros.

As músicas Têm toda a sofisticação e o mistério que envolvem o mundo bizarro de Lionel. a música de Diane oiuvia pela calefação, antes de conhecê-lo, ficou na minha cabeça por vários dias, como um fluxo de ondas a me hipnotizar.

A cenografia também é demais. O apartamento de Lionel é incrível. As cores me dão vontade de ver o mundo assim o tempo inteiro. A cena do mar, quele azul por todos os lados, dá pra sentir o vento. O figurino é de matar (eu teria todos os vestido da Diane)...

Enfim, amei tudo. Tesourinho.




500 Days of Summer




Se eu pudesse mudar a trilha sonora desse filme não tiraria nenhuma música do lugar.

Nenhum outro filme fez uma cena de karaoke mais bacana do que a da fofa master, a Summer do filme, cantando Nancy sinatra com sua dancinha linda e seus enormes olhos azuis. Se eu estivesse lá naquele momento, certamente estaria com a mesma cara boba do Tom, outro fofo, bebinho e cambaleante no Pixies que não podia ser música mais apropriada.

E tudo o que toca é bom de ouvir.

Tem outra versão de Here comes Your Man, pela Meagan Smith, que ficou deliciosa.

Sobre Smiths, que eu amo demais, não preciso nem falar. A cena do elevador fala por si. E depois, na versão de She and Hin, tão gostosamente melancólica quanto os próprios-

E aquilo, né: Black Lips no rocabilizinho delícia, Regina Spector, fofura total no comecinho do filme e no meio também em cenas da mais profunda docura e tristeza, The Doves que é aquela coisa súper preguiça que eu sempre ponho pra ouvir numa tarde de domingo, Carla Bruni cantando que mais parece que tá comendo um creme bem docinho, na cama, depois de tranzar. Hall and Oats na magnífica cena do Tom todo feliz depois da primeira noite com Summer, como se o mundo inteiro compartilhasse da sua felicidade explícita. Tem Feist na sua famosa Mushaboon e Kevin Michael, pra fechar com chave de ouro no melhor da balada-de-salão-pra-dançar-de-rosto-colado.

Mas é impossível falar só da trilha porque é impossível não se apaixonar por esse filme.

Fiquei pensando que a Summer é muito como os outros me vêem: independente, corajosa, segura, aberta, desapegada. No fundo eu SOU assim, mas muitas vezes ESTOU totalmente Tom: boba, romântica, insegura e tímida. As melhores fases da minha vida são quando estou SummerTom: um pouco de cada e na medida certa. Bom mesmo é o equilíbrio, sempre. Já fui Summer e já tive uma Summer também, então falo com propriedade: uma Summer precisa de outra Summer porque se tiver um Tom, ah, ele vai sofrer. Também já fui súper Tom e já tive um Tom também e, com a mesma propriedade eu digo: tudo o que falta num Tom é perceber e acreditar que ele é muito mais.

Mas a maior lição do filme (sim, filmes bobos para meninas românticas também têm algo a dizer!)veio nas palavras da irmã do Tom: seu relacionamento não pode ser medido apenas pelos momentos bons. Tudo tem que ir pra balança e, quando for a hora, você tem que aceitar que tem que cair fora e se fortalecer novamente.


Marie Antoinette







Descrevi em cinco linhas minhas impressões e apreciações por esta trilha e pelo filme num num post antigo sobre a Copolla filha, mas no início do ano fiz uma pesquisa mais elaborada para um evento no Dona Teresa (sim, o bar bacanão da família) e quero agora justificar com mais amor minha paixão por esta seleção musical.



Vou começar pela escolha das músicas, que não podia ser melhor. Sofia conta sempre com o bom gosto do amigo Brian Reitzell, do meu queridinho AIR (que trilhou todo o Virgens Suicidas, primeiro filme da Sophia, e fez disso um álbum completo e homônimo da banda).


Trilha totalmente 80's, até o que não é parece ser. Traduz a juventude, o tédio e a loucura que foram o reinado da excêntrica Marie. O tema de abertura, Hong Kong Garden, é de uma fase da Siouxie (ainda com os Banshees) que eu adoro demais, súper menina, menos sombria, não que eu não curta as darks, adoro a Siouxie de qualquer jeito.


Descobri muitas coisas bacanas por essa trilha e virei fã. Bow Wow Wow, súper gritinhos de meninas rockeiras do pós punk é demais - você vai lembrar da música que toca quando Marie e as amigas se acabam em doces maravilhosos, champagne e muitas provas de roipas e sapatos em eternas tardes ensolaradas. Adan and The Ants e seu rocabili anos 80 faz a festa aqui em casa e Radio Dept. , que agora mora pro resto da vida no meu coração e é a coisa mais atual e ao mesmo tempo mais 80's que eu já ouvi em deliciosas baladas cheias daqueles twuiiiins de sintetizador que eu amo.


New Order entra - e não podia faltar - com minha música preferida, Cerimony, numa parte do filme que eu adoro que é o baile de máscaras - Kirten Dunt está ma-ra-vi-lho-sa, toda de preto (que demais aqueel tule preto sobre os olhos) e é nessa festa que Marie conhece seu grande amor.


E tem Strokes, The Cure, Patricia Mabee (nas sonatas), Squarepusher, que misturados às belíssimas composições clássicas fazem de arie Antoinette um filme tão único que, com um repertório tão moderno (mesmo no que foi moderno um tempo atrás) consegue mostras exatamente o que a Copollinha quis: o reinado de um país por um casal tão jovem que viu o tempo passar antes da hora.






domingo

Edward Mãos de Tesoura




Tim Burton também tem seu tesourinho pra trilhar seus filmes. O Nome dele É Danny Elfman.

O moço tem brilho. Suas composições, tão oníricas quanto os filmes que trilha, nos levam aos braços de anjos rumo aos céus e às trevas. Pura magia, caixinha de música onde a bailarina sempre dança sozinha, uma taça de cristal repleta de lágrimas e outra, de veneno.

Ele é o cara do Oingo Boingo, veja só. Influenciado por Nino Rota, outro dos meus tesourinhos, ele trilhou TODOS os filmes do Tim Burton, entre outros e séries de TV.

Das trilhas do Tim, as que mais gosto são Peixe Grande, A Lenda do Cavaleiro sem cabeça e Edward Mãos de Tesoura, minha preferida.

Esse filme é de uma beleza que dói. cada tomada, cada biquinho que o Edward faz, são de partir o coração. Meio gente, meio tesouras, ele é puro amor e inocência. Parece uns meninos que eu conheci no Madame Satã.

Sempre fui admiradora da beleza estranha, do manco, do dente torto, da cicatriz, do tímido. Edward chega a ser pueril em suas lembranças, sua forma de amar e querer agradar. O amor pelo pai e a dor por sua morte fazem dele tão ou mais humano que todos nós. Tem aquele buraco que nenhum ser humano irá preencher: o buraco causado pelo abandono. Porque a gente nasceu pra ter carência já que aqueles que nos puseram no mundo não nos disseram que seria assim. Ninhuém devia nascer pensando que um dia pertenceu ou pertence ou pertencerá a alguém. O ser humano é um ser do mundo. A gente nasce e morre sozinho e esse devia ser o maior orgulho de viver, que só tem consciência aqueles que entendem que a pessoa mais importante da nossa vida somos nós mesmos.

Eu não sou eu, não sou teu e nem sou meu. Sou do mundo, que me acolhe e me estapeia. Do mundo, que me dá gosto e desgosto. E é assim que tem que ser porque nada é absoluto. O prêmio é voltar pra casinha sãos e salvos e lembrar que não há melhor lugar que o nosso lar, o lar interior, dentro do peito, dancing with myself.

Mas ter sempre alguém por perto é fundamental, sem posse, porque isso não é dependência, é alimento pra alma. cercar-se de quem é o bem e te quer bem é o maior e o melhor alimento pra alma. e tenho dito.

Edward, querido, bem vindo à vida real. Mas não fica sozinho não. Alguém vai gostar de você exatamente como você é. Mesmo que seja eu.





Quase Famosos




Que bom que essa trilha acabou de chegar aqui, no meu Toshibão.


Não haveria melhor momento para escutá-la. Dia nublado, chove lá fora e eu aqui, me chama, me chama, me chama...

Tem vezes que eu preciso do ar da graça dos 70's. Adoro ouvir músicas que eu ouvia em casa, que meus pais botavam na vitrola num dia chuvoso.

Quase Famosos, o filme, assisti faz tempo. Com meu pai, aliás. O doidão. Delícia de filme.

Adoro o Cameron Crowe e ele adora retratar gerações e os comportamentos e canções que envolvem suas tribos. Foi assim em Singles e, se você pensar bem, em Vanilla Sky também.

Eu tava aqui, agora que aquela maldita dor de cabeça passou, enfiada na leitura de coisas do Freud, teorias da personalidade e afins, o nariz já marcado pelo óculos, ouvindo Sophia Malman (que também é perfeita nos dias de outono-pq se for no inverno dá pra cortar os pulsos) e pensei: cara, preciso de uma pausa. Que será que chegaram as músicas que botei pra baixar?

Tava fuçando torrents de trilhas e, sem querer, vi a de Always Famous e dei um enter.

Porra, que delícia!

Lembrei súper do filme, que fala do jornalista mirim que é recrutado pela Rolling Stones pra fazer uma matéria da banda de rock top do momento. E tem aquela coisa de moleque conheccendo o mundo, a música, as drogas, as garotas, os dramas e as belezas da vida na estrada, sem rumo, sem dono. Ah, os 70's, né. Aquela coisa.

Mas ouvir a trilha hoje foi tão gostoso quanto quando eu tinha uns 15 anos e queria sentir a sensação do que é bucólico, do que é solidão, do que é o conforto da solidão. E passava uma tarde inteira de outono sentada na escadaria do Teatro Municipal, com minhas calças rasgadas e minha camisa xadrez fumando cigarro e observando tudo, sempre observando, naquele cenário cinza que é o centro de sÃo Paulo, principalmente no outono.

E hoje eu acordei e pensei que esses dias me senti como uma adolescente boba, quando vi ele na frente do bar, sexta-feira agora, e não soube o que fazer. Aquele cheiro atrás da orelha, o abraço, o beijo na trave e o sorriso que me deixou totalmente desconcertada, morrendo de vergonha porque minhas pernas tremiam e eu não queria que ele percebesse. E dei as costas depois de falar alguma coisa sem a menor criatividade, tipo "você já tocou?, porque eu tava morrendo de vergonha, com vergonha de ele me ver corar ou ouvir as batidas do meu coração. Que boba, me senti uma boba. Ainda mais porque não parecia uma boba, parecia uma pessoa blazé, dessas que eu odeio, que passam a noite com você e quando te vê de novo finge que não foi nada. Quem dera não ter sido nada. Não, ainda bem que foi tudo, mas agora eu não sei o que eu faço com as lembranças de uma manhã emendada numa tarde de dormir e acordar entre beijos, carinhos e sussurros, saliva e suor, sem pressa, sem vergonha, sem pretensão além de passar um momento ótimo e honesto, o cheiro que não sai do lençol e a imagem daqueles olhos cinzas que sorriem como os de crianças.

E aqui, tocando That's the way, do Led, me faz sentir um grande conforto. Porque apesar das minhas reações estúpidas de uma pessoa que na frente de um par de olhos cinzas, quase cava um buraco pra entrar de tão tímida, eu penso que estou hoje exatamente onde eu queria estar.

Estou à flor da pele, sentindo que o pulso ainda pulsa, que o coração sangra, que a cabeça dói e tudo isso é incrível, porque passei tanto tempo num torpor existencial, querendo mais, querendo viver o âmago da vida e sem viver e nem saber até.

Na trilha também tem uma música do Cat Stevens (The Wind) que eu adoro, tem Allman Brothers Band, puro roquenroll bem do jeito que eu gosto, tem Feel Flows do Beach Boys que é pura viagem com flautas maravilhosas, tem Thunderclap Newman, Simon and Garfunkel, e Todd Rundgren no melhor estilo antena um(este último principalmente). Não posso negar minha paixão pela Antena1 FM. Careta pra caramba, tem o tipo de música que me conforta na hora certa. É mais ou menos como aquelas músicas que a gente elege pra dormir, tipo Yo La Tengo, Gustavo Santaella e AIR.

Agora, com medo do que vou descobrir, vou voltar pras teorias de personalidade e talvez achar de onde veio essa minha súbita timidez que me invadiu quando os olhos cinzas olharam os olhos meus.

Deixo aí o Clarence Carter, só porque hoje eu vou dormir bem. Só comigo, mas muito bem.





quarta-feira

Bastardos Inglórios


Sempre que começa um burburinho de que tem filme novo do Tarantino rolando, a primeira coisa em que penso é: Oba! Tem trilha sonora das boas e sem dúvida vai ter Ennio Morricone!!

Adooooro os filmes do Tarantino e tanto quanto as trilhas que ele escolhe. Eu casaria com ele só pra passar a lua de mel ouvindo Ennio Morricone (exageraaaada...). Pra quem não sabe tem dele em todos os filmes do Tarantino (as do Kill Bill ficaram mais famosas), trilhou The Good, The Bad, The Ugly, Cinema Paradiso lindamente, Malena (perfeitoo), Era Uma Vez No Oeste...

Mas então, Bastardos Inglórios é totalmente do caralho. Os judeus matando os nazi à paulada, a heroína, magnífica e com um figurino impecável se chama Shosanna, Eli Roth foi a escolha perfeita, assim como Christopf Waltz.

Dá pra sacar como ele evoluiu como diretor. Tudo o que sempre foi bom está ainda melhor, com muito mais qualidade. Cenografia, iluminação, figurino, tomadas fudidas. Claro, parece que o orçamento foi maior também, isso ajuda, mas o cara tá fera.

Bradi Pitt, putz, não preciso nem falar mais nada. Depois que o vi no último dos irmãos Coen, já tava pagando um pauzão pra ele, mas agora...o cara mandou bem demais.

O roteiro é sensacional, puta idéia que, bravamente, deixou a academia sem jeito na indicação ao Oscar. Pra Tarantino isso é a glória, óbvio.

Agora, falando do que eu mais gosto: tem quatro faixas do Ennio Morricone(é a terceira vez que falo desse cara, mas, convenhamos, ele é demais) maravilhosas, tem David Bowe com Cat People, Jacques Loussier, The Film Studio Orchestra fabulosa, tem Billy Preston (Billy Preston!!!). Enfim, vou passar um tempo ouvindo!

E adivinha o que eu deixo pra vocês...






terça-feira

Amarcord (almoço entre amigos parte I)




Saudades daqueles domingos em que reuníamos amigos em casa para fazer um almoço, abrir um bom vinho e assistir algum filme cabeça.

E eu, que adoro trilhas sonoras para filmes e para minha própria vida, tinha sempre as minhas seleções para ocasiões especiais: seleção para ouvir na banheira, seleção pra transar, seleção pra dormir, seleção pré balada... A mais famosa ficou sendo a seleção "almoço entre amigos". Sempre muito elogiada, conta com scores de filmes e séries que adoro como Amélie Poulan, O Carteiro e o Poeta, Cinema Paradiso, Dexter, Diários de Motocicleta, Bicicletas de BelleVille, Amarcord, entre outros.

Hoje vou falar de Amarcord. Filme exuberante e encantador de Fellini, mostra a Itália dos aos 30, loucuras, bordéis, Mussolini e muitos elementos de outros filmes e da própria vida do Fellini, por se passar na cidade onde ele nasceu e integrar diversos elementos de sua infãncia, mistura cores e imaginação extremamente fértil através d o olhar de um garoto.

Absurdamente perfeitamente trilhado por Nino Rota, tem um dos scores que eu mais gosto de ouvir, principalmente durante agradáveis almoços entre amigos.

Nino Rota é geninho da música, consagradíssimo na Itália, começou a compor ainda criança. Responsável por 11 dos 15 scores de Poderoso Chegfão 2 - trilha premiada pelo Oscar - também trilhou Le Notti Bianche, La Dolce Vita e 8 1/2 (realmente ele encaixa direitinho com Fellini).

Música é mesmo do caralho. Sabe o que é mais curioso? Assisti Amarcord quando era bem pequena, pequena ao ponto de, depois de grande, não lembrar de mais uma cena sequer do filme. Mas nunca esqueci das músicas.

Um dia, tava comendo uma pizza na casa da Tati e ela colocou Amarcord, a música, pra tocar. Mil lembranças da minha infância voltaram aos meus olhos e pensava em nado sincronizado, Chanel n. 5, mulheres de chapéu em bailes no navio, até cenas do seriado Ilha da Fantasia(aquele do Tatu, lembra?) surgiam à minha frente. No dia seguinte tava lá, eu, vendo o filme de novo. Puro deleite.

Música é como cheiro: traz lembranças até do que a gente não viveu.