sexta-feira

I'm Not There


Um filme pra quem realmente gosta de Bob Dylan, pois retrata sua trajetória musical através de cinco personagens distintos, que representam os mitos que permearam sua carreira. Os personagens foram muitobem representados por um grupo de atores escolhidos à dedo. E suas histórias se intercalam  no decorrer do filme, trilhado pelas canções que mais marcaram cada fase. 

Os fãs devem ter assistido na época de seu lançamento, em 2007. Eu fui mais lerdinha e só vi essa semana. A fotografia, pra mim, é o TOP do filme.

Uma biografia não-convencional.

Woody Guthrie, personagem representado pelo jovenzinho Marcus Carl Franklin (foda o moleque, que também fez o sensacional Be Kind Rewind) representa o mito de sua genialidade e marca as raízes do folk e sua necessidade de cantar sobre seu tempo e seu povo.

Cristian Bale representa a contracultura, seu relacionamento com a música gospel, seu envolvimento com Joan Baez (Juliane Moore ficou parecidíssima) e a forma como era visto como "pregador" de seus ideais e de toda uma geração revolucionariamente caipira.

O personagem de Heath Ledger mostra seu flerte com o cinema, seu relacionamento com a imprensa e realções familiares. Olha, o Heath Ledger (que está deslumbrante) era um lindo, a Charlotte Gainsbourg é uma puta atriz, mas achei que demoraram muito nesse personagem. Daria mais tempo ao personagem do Cristian Bale, pela importância da fase que ele representa. 

Aí tem o personagem do Richard Gere. O cenário e as canções que o envolvem são maravilhosos, assim como a forma que retrataram um Bob Dylan súper Billy The Kid num enredo nonsense e surreal. O cenário e as canções que o envolve são maravilhosos. Me remeteu muito ao clima das músicas do Beirut e os figurinos são encantadores.

Logo no início do filme vem o lindo Ben Wishaw (que fez o Grenouille de O Perfume e o irmão do Dexter da série, lembra?). Eu ainda não tinha entendido a dinâmica do filme, e por seu discurso pensei que era o Willian Burrougs, mas ele é o lado poético de Dylan. Eu acho. rss

E, por fim, Cate Blachett, uma de minhas atrizes preferidas, matando a pau e merecendo total o Oscar de melhor atriz coadjuvante. Ela é o próprio Dylan na aparência, trejeitos, voz, na fase em que ele se joga nas drogas e na guitarra elétrica, na cultura pop e no estilo blazé. Retrata novamente seu relacionamento com a imprensa e também seu flerte com o cinema e o encontro com os Beatles e o figura genial Allen Ginsberg.

Assim, um dos filmes mais bacanas que já vi. Me lembrou muito a dinâmica usada no Velvet Goldmine pra contar a história do movimento Glam, com personagens que remetem aos ícones da época. Aí descobri que é do mesmo diretor, Todd Haynes. Fuééé.

Devo ter ouvido Bob Dylan minha infância toda, meus pais gostam muito (mais minha mãe), mas a primeira vez em que ouvi com consciência foi aos 11 anos, quando o Léo (amigo de mami) me emprestou uma fita K7 (aff, como tô véia) com o Infidels, seu 22 álbum de estúdio e um dos meu preferidos.

Recomendo súper. O filme e o Bob.

O som aí embaixo é um cover, mas é da forma que está no filme e gostei bastante da versão.




Broken Flowers - sobre jazz, a saga do feriado e don juans


Terça-feira eu cheguei em casa, com o Neto, depois de uma maratona em busca de um bar decente e aberto aqui pelas quebradas do baixo augusta. Era feriado, fazia muito frio com uma maldita garôa intermitente.

A a maior dificuldade foi escolher um título. Munidos de doritos, charge e coca-cola, sacamos de uma enorme pilha de DVDs um que tinha o Bill Murray na capa.  "Já gosto!" animou o Neto. Olha, é do Jim Jarmusch! "Gosto mais ainda!" Neto se animou de novo.

Broken Roses... nunca tinha ouvido falar e também não me lembrava da última vez que vi algo do Jim Jarmusch. Acho que foi Down By Law, com meu pai... Ah, mas o Bill Murray, né!

O filme começa como se estivesse terminando: com o nome de TODA a galera que participa à frente e por trás das câmeras. Aí começa a aparecer o nome dos atores principais: Jeffrey Right, Sharon Stone, Frances Conroy, Jessica Lange, Tilda Swinton, Julie Delpy, Cloë Sevigny e Mark Webber. Nem falo nada, né...

A história é a seguinte. O Bill Murray, que no filme se chama Don e é um baita dum Don Juan, acaba de ser largado com cara de paisagem, no sofá, por sua atual namorada ou coisa do tipo, que sai pela porta de mala e cuia, linda e loura. Um pouco depois ele recebe uma carta anônima, em papel e envelope dor-de-rosa, junto com um buquê de rosas da mesma cor.

A carta, enviada por uma mulher anônima, dizia que há 20 anos ele engravidou esta mulher que agora escreve pra ele e que, por todos esses anos guardou esse segredo, mas que agora decidiu revelar ao seu filho, que está a caminho de encontrar o pai.

Pausa dramática.

Aconselhado por um amigo, Don decidi ir atrás das mulheres que namorou 20 anos atrás e, antes da sua partida, o amigo lhe oferece um CD de músicas.  'Já ouviu Mulatu Astatke? " pergunta o amigo. "É um cara da etiópia que toca Jazz. Gravei pra você ouvir enquanto viaja. "

Ah, vá! Quando ouvi isso eu desacreditei. Quem me apresentou esse som foi o Bah, meu lorinho lindo de BH, ano passado. Eu pirei no som e ouço direto. É um jazz diferente (também, o cara é da Etiópia), bem intimista, com a metaleira do jazz e uma percussão bapho, mas sem ser vibrante como o acid jazz, nem alegre como nas big bands e muito menos careta como aquela porcaria do smooth jazz. As músicas seguem um estilo, se parecem muito umas com as outras, mas não me canso de ouvir.
Quem frequenta o Dona Teresa vai lembrar desse som. Essa aí embaixo é a clássica que ta na playlist do bar e na finada Lounge Against The Machine eu sempre tocava uma ou outra.

Mas eis que o atordoado Don cruza céus e terras ouvindo o CD que o amigo gravou e assim o filme é todinho trilhado por Mulatu Astatke do começo ao fim.

Cada ex que Don encontra o recebe de uma forma. Vinte anos se passaram, cada uma mudou tanto que ele mal reconhece, mas no final de cada encontro fica expresso em sua cara a insatisfação de não ter construído sua vida de outra maneira (pois todo Don Juan nunca constrói nada além de seu ego falido), o medo de que uma delas possa ser a mãe de seu filho e a certeza de ter sido um calhorda na vida de cada uma delas.

Assim, se você não ficou afim de ver o filme, ouça Mulatu Astatke. Se não quiser conhecer a música, veja o filme. Os dois são deliciosos. Juntos, então, ficou uma belezura.

The Boat That Rocked


Não posso negar que os filmes trilhados pelos 70's sempre aparecerão por aqui. Desde criança ouvindo tudo isso, cada vez que ouço num filme o filme da minha vida também passa pela minha cabeça.

The Boat That Rocked eu vi ano passado, eu acho, mas ouvi a trilha novamente esses dias e resolvi escrever, porque piro demais nesse som e o filme é mesmo um barato. Além da trilha sonora absurda e ser um filme que fala de música, conta com um puta elenco de peso e um roteiro delicioso.

Bill Nighy, Rhys Ifans, Kenneth Branagh, Nick Frost... todos matando a pau, mas o Philip Seymour, pra variar, rouba o filme como o durão dono da rádio.

é o seguinte. Em 1964 o Reino Unido proibiu as rádios de tocarem roquenrol (coisa do diabo, né). Aí começaram a surgir diversas rádios pirata, que viviam nas mãos da censura. Mas a que mais preocupava o governo era a Radio Rock, pois além de subverter com 24 horas de puro roquenrol, ter os locutores mais bocudos usando palavrões que nem vírgula, o funcionamento da rádio era el alto mar, dentro de um barco onde todos viviam como uma grande família, em algum lugar do oceano praticamente impossível de ser localizado.


E o filme se passa todo lá, nesse barco, com seus tripulantes figuras, cada qual com sua história e uma melhor que a outra.

O filme gerou uma OST dupla. Tem de um tudo. Das guitarras eletrizadas de Jimmy Hendrix aos mela-cueca Stay With Me da Lorraine Ellison e também na voz maravilhosa da Duffy. Nesse intermeio, The Kinks, Beach Boys, Paul Jones, Jeff Beck, Skeeter Davis, Cream, The Who, Cat Steavens com sua Father and Son no momento perfeito pra derramar uma lagriminha, Otis Redding. Só os fodão.

E é isso. Assista quando for 4:20, pra entrar no clima, e divirta-se com esse revival musical.

Vou deixar essa do The Troggs pra vocês porque eu acho essa música a cara do meu pai, que nem esse filme também é. Um dia ele vai deixar de seu um dinossauro bobo e vai ter um computador. Aí ele vai ler esse post e até achar graça disso. =)

quarta-feira

Somewhere: um post para todos que não gostaram do filme







Assisti Somewhere bem antes de sair no cinema, tamanha minha ansiedade. Estava louca para conferir como a Coppolinha retrataria, desta vez, o seu tema favorito: tédio&casamento.


Lembro bem de ter dormido logo no começo. No dia seguinte tentei novamente. Assim que acabou eu pensei: "a trilha é ótima, como sempre, mas acho que não gostei do filme".


Durante um ano, quando pensava sobre o filme ou falava sobre ele com alguém, ainda não tinha certeza da minha opinião, era sempre um "acho que não gostei". Uns meses atrás eu estava conversando com alguém sobre aquela cena em que o cara vai fazer uma máscara do próprio rosto e mostraram o processo todo praticamente em tempo real. Aí o alguém diz que, de todas as cenas chatas e monótonas do filme, aquela era a pior, que nunca tinha se sentido tão entediado diante de um filme (acho que ele nunca viu os iranianos então rss). Mas sabe que nessa hora me deu um insight que mudou tudo o que eu achava sobre Somewhere.


A Sophia Coppola é tão foda que com esse filme ela foi além. Pensa comigo: o que tem em comum The Virgin Suicides, Lost in Translation, Marie Antoinette e Somewhere? Tédio e casamento, certo? Somewhere é o TOP das suas intenções pois ela mostra e faz o expectador sentir o que é o tédio de verdade.


Agora eu tenho certeza de que adorei o filme.


Agora vamos à trilha que, pra variar, tem todos os meus queridinhos. Só não descobri se foi o cara do Jesus And Mary Chain que trilhou novamente, como nos outros.


Ela é meio careta, mas aquele careta bom. Tem Brian Ferry numa versão linda de Smoke Gets In Your Eyes e Coll da Gwen Stefani (amo essa música). Tem Phoenix (sabiam que eles fizeram essa música especialmente para a cena inicial do carro na rotatória e que o vocalista é casado com a Sophia Copolla?) e Foo Fighters. Tem Look, que é uma das minhas preferidas do Sebastien Tellier (o clipe é maravilhoso, tá aí embaixo), tem Strokes como sempre, T-Rex, Police (a famosa "solange/so lonely")...


Resumindo: GATUXA.











segunda-feira

True Blood




Sobre a série nem vou falar muito. Só vi a primeira temporada, mas já sei que é aquela delícia toda daquela gente linda e gostosa se pegando, vampiros e monstrengos hot, maus e sem pudor.

Agora, a trilha... putaqueopariu. Mas, tipo, putaqueopariu MESMO.

Eu tinha a OST da primeira temporada, ouvia loucamente, ja tinha pensado em escrever sobre mas passei por um longo e frio inverno de inércia  criativa (leia preguiça mesmo) neste bloguezinho de boishta, mas agora que eu baixei as OSTs da segunda e terceira temporadas, não resisti. Tive que dar uma pausa no chato do Freud que tenho lido há meses pra pensar em coisas muito mais divertidas. Afinal, se você for parar pra pensar que essas músicas foram escolhidas pra trilhar uma série como essa, você já tem música suficiente pra muitos "Let's Spend The Night Together".

Um dos principais motivos pra eu amar OSTs é que também amo playlists. Sou viciada em montar listas, principalmente de música. Tenho todo um ritual diário de baixar, ouvir e ir separando em listas e mais listas que enchem o meu desktop: música pra dormir, música pra cozinhar à noite, música pra cozinhar aos domingos, música pra almoçar com amigos, música pra trepar, música pra fazer amor, música pré-balada, música pra estudar coisas chatas, música pra estudar coisas legais, música pra ouvir no chuveiro e por aí vai. E trilha sonora de filmes/séries nada mais é que uma play list de algo que também traz lembranças.

Mas, voltando ao assunto, a trilha de True Blood já ta no coração. Tem aquele tipo de som sujo que eu gosto, aquela sujeira boa que me remete à Tom Waits, Bukovky, Stones, Tarantino, e Jack Kerouac. Pra dar um clima caipiro-americano, ótimos blues, countrys, folks e aquele rocabilizinho rampeiro, bem no estilo que eu curto. Mesmo as mais baladenhas são demais. 

Jace Evveret para a abertura foi a escolha perfeita, letra e música súper em sintonia com a trama. Adoro a versão do Cobra Verde pra Play With Fire. Howling For My Baby, do Howlin Wolf, ficou ótima com M. Ward. Shake&Fingerpop é soul-suingueira de primeira. Frenzi e seu brrrrrrrllll é das minhas preferidas. Tem um bluesão do Dillan, na terceira temporada, que é matador. Até as gêmeas Watson mandaram muito bem na versão de Just Like Heaven do Cure. 

Lançaram score também, do Nathan Barr, mas é aquela coisa bem pra quem curte score mesmo. Eu curto muito, mas nesse caso eu gostei mil vezes mais das soundtracks.

Aqui, pra quem ainda não ouviu, vai se coçando de vontade ou tome uma atitude LOGO.



sábado

O Discurso do Rei e o Desenvolvimento do Self



Demoro um tempo para assistir aos filmes do Oscar. Principalmente os vencedores.


Tenho esse meu jeito, assim, meio avesso às convenções, ao senso comum, mas sempre acabo cedendo, ao meu tempo. Isso porque meu interesse pelo inconsciente coletivo me faz querer saber onde está o ponto em questão que marcou as pessoas de alguma forma, mesmo que diferentemente das minhas próprias formas, pois as minhas formas não são necessariamente as mais interessantes de serem analisadas. Não por mim, pelo menos. Talvez isso seja uma fuga de mim mesma, não sei, mas aí já é assunto pro meu analista.


Creio que vieram aqui para ler algo sobre trilha sonora, afinal, este é o propósito deste blog. Mas desta vez quero falar sobre outras coisas. Se ficar cansativo pra você, pode passar para o próximo post, está bem interessante, é Tarantino, então diz muito sobre música e das boas.


Sabe, dediquei muitos anos da minha vida estudando e aplicando meus conhecimentos sobre a forma como o nosso corpo reflete a nossa alma. Chamo de alma mas você pode chamar como quiser, não faz diferença. Ao estudar as teorias de Reich, Alexander Loan, dos antigos chineses, japoneses e indianos, mas, principalmente estudando o desenvolvimento e comportamento de meu próprio corpo e de muitas e muitas pessoas que já estiveram despidas de roupas e barreiras à procura de paz interior num consultório de terapia corporal, percebi e compreendi que o corpo é o livro onde está escrita toda a história de nossa vida. Adoro usar esta frase. Considero uma ótima tradução. E acredito realmente que é possível desvendar muitos mistérios da mente à partir de uma boa leitura corporal. Estou longe de ser uma expert no assunto, estou e sempre estarei apenas engatinhando, pois o conhecimento sobre a psique humana é infinito, inclusive vai além de nosso alcance já que somos...humanos.


A primeira vez que um terapeuta corporal olhou meu corpo, quase nu, e me indicou a origem de um ombro projetado para a frente, o outro mais elevado, um joelho que apontava para o lado oposto, uma tatuagem em determinado local, o formato do queixo, o jeito como eu pronunciava determinadas palavras ou até mesmo as palavras que escolhia usar, as pessoas que gostava e as que odiava... isso trouxe a mim uma consciência tão mais clara de quem eu realmente era que imediatamente aprendi a ver quem eu era, quem gostaria de ser e porque não era. Mas esta busca, a do autoconhecimento, mesmo quando nos apontam o caminho, é eterna.


Não sei quem é Colin Firth em sua intimidade, o homem por trás do ator, mas tenho certeza de que em  algum momento ele teve contato com alguns conceitos desta natureza para criar seu personagem em O Discurso do Rei. Tom Hooper certamente se aprofundou nisso e foi partindo destes princípios que dei uma pausa no filme para começar este texto pois precisava me expressar sobre isso já que estou aqui, sozinha em casa, assistindo à este filme tão, mas tão bem construído.


As palavras, depois que foram inventadas, tornaram-se verdadeiras armas. Palavras podem mudar o rumo de uma vida, palavras podem acalentar, podem concertar, apaziguar, mas podem ferir brutalmente. Palavras têm o poder de matar. Mas nem sempre nos expressamos por palavras. O tempo todo nosso corpo se expressa por nós e trai nossas palavras. É fascinante observar alguém dizendo algo e perceber em seu corpo a verdade que há por trás das palavras. Mas também é difícil passar por isso. Ver alguém te jurar algo, do fundo do coração, através de palavras e saber, pelo que conta seu corpo simultaneamente, o quão falso este juramento pode ser.


Lionel, o “fonoaudiólogo” do Rei, era um  homem de tamanha sensibilidade que subverteu os conceitos ortodoxos da medicina de sua época para se dedicar ao estudo do homem e não da máquina que muitos acreditam que este seja. Naquela época em que o filme se passa, Freud já estava borbulhando na mente de muitas pessoas que queriam ir além da caixinha previsível e felizmente, à partir dele, muitas idéias geniais se construíram, muitos métodos, muitos desafios.


Colin Firth conseguiu muito mais do que interpretar um gago muito bem. Ele traduz em seus lábios, suas expressões faciais, sua postura física, na forma como toma o ar, toda a história de vida que está por trás de sua gagueira. Claro que agora eu tenho que falar de Nathalie Portman em o Cisne Negro, pois da mesma forma ela construiu sua personagem, que também tem um trauma, uma história. Eu empataria os dois na premiação (desconsiderando a caretice, cafonisse e manipulação cultural que é o Oscar), até porque, sob esta ótica, os dois filmes falam sobre a mesma coisa: a construção do ser humano à partir da história de sua vida, da formação do ego, do desenvolvimento do self. Mas sobre Cisne Negro talvez eu fale em outro momento, provavelmente falando sobre música também, já que a OST é belíssima.


Enfim, voltando a Lionel, o filme trás outra questão interessantíssima, que é a diferença entre o profissional que tem diploma para o profissional que tem vivência. Na faculdade de Psicologia discutimos pelo mesmo uma vez por semana a questão do que é cientificamente aceito, o que é ético, a pluraridade das técnicas num só profissional ,o charlatanismo, o politicamente correto, a academia, bla-bla-bla... wiskas sachê... Não estou aqui para comprar briga com ninguém, muito menos deliberar uma arrogância que não me pertence. Minha intenção é apenas expressar minhas reflexões, pois assim compreendo melhor as coisas, posso reler este texto mil vezes e se mil vezes tentar reescrevê-lo, mil vezes ele surgirá de uma forma diferente. Acho que é exatamente por isso que eu escrevo. Escrevo em papel de pão, escrevo numa página do World, escrevo no batente da porta, escrevo numa folha solta, escrevo na contracapa do caderno... pois quando leio minhas palavras elas soam mais verdadeiras que quando as ouço, pois estão livres dos bloqueios da minha própria mente, livres de moral, livres de pudor, livres de convenções sociais, livres de cuidado com o próximo, livres de mim mesma.


Já perceberam o quanto sou prolixa, então vamos voltar a Lionel. Lionel é o cara cuja sensibilidade supera o convencional. Lionel não se formou em medicina, fonoaudiologia ou coisa que o valha. Lionel estudou as artes do corpo através do teatro (e o que somos nós em sociedade senão atores das nossas próprias vidas?), Lionel observou atentamente o comportamento humano e percebeu que toda forma de expressão (seja pelo corpo, seja pela voz) é uma forma de liberdade. Lionel entendeu que a liberdade do self é a única forma de ser quem se quer ser, de viver plenamente, de realizar seus desejos, de viver em paz e em segurança emocional.


Fico pensando nas pessoas que tentam conseguir  o que querem através da manipulação alheia. Penso nas pessoas que usam de seu charme passa seduzir os outros e conseguir o que querem, naquelas mais “diabólicas” que usam de seu poder de persuasão para diminuir o caráter dos outros a seu favor, que não fazem por merecer. Aquelas que fazem beicinho pra lhe pagarem um almoço ou coisa que o valha, que fazem o outro acreditar que deva fazer um trabalho difícil por elas porque não são capazes ou simplesmente têm preguiça de fazer ou mesmo pelo prazer de ter alguém lhe “servindo”. Penso naquelas pessoas que armam armadilhas para que o outro caia enquanto ela toma o seu lugar, que passam horas tramando como se dar bem em detrimento dos outros. Penso naqueles que têm o dom de iludir, garantindo que um dia será só você a compartilhar seu verdadeiro amor e no dia seguinte reproduz as mesmas palavras e ações com uma terceira pessoa, quem sabe até com uma quarta ou quinta. Mas que maneira é essa de ser feliz? Este tipo de prazer traz mesmo a verdadeira felicidade? Prazer e felicidade andam juntos? E penso muito mais em quem está do outro lado, permitindo ser fantoche de alguém, deixando os outros dirigirem sua própria vida. Penso nas pessoas que não conseguem dizer não, nas que não conseguem dizer o que realmente pensam, o que querem e o que não querem. E penso nas quem não fazem absolutamente nada para mudar isso, por fraqueza, por orgulho, por não se sentirem capaz, por medo, por todo a sua história de vida. Penso em mim mesma, que tantas vezes permiti isso, sendo enganada, sendo iludida, até dizer não.


Livre é aquele que pede ajuda quando precisa. Que se despe de seu orgulho e admite que precisa melhorar mas já não pode fazer sozinho. Livre é aquele que assume seu próprio self, mesmo com defeitos e luta, mas consigo próprio, para ser alguém cada vez melhor. Livre é aquele que corta o mal pela raiz quando percebe que está caindo em um abismo, mesmo sabendo que com este corte vem muita dor, sofrimento e até solidão. Os fracos não percebem que o são, e cada vez mais quando precisam diminuir os outros para crescer. E os maus, estes sabem exatamente o que estão fazendo, e gostam disso.


Às vezes me dá vontade de dar um brilho eterno de uma mente sem lembranças na minha cabeça pra esquecer definitivamente das vezes (e foram tantas) que estive nas mãos de alguém nas mais diversas situações, pois não há sensação pior do que a de ser dependente de outra pessoa. Mas estas lembranças me ajudam a ter certeza do que eu não quero pra mim. Me ajudam a ficar esperta pois as pessoas não são  boas em sua maioria. Na verdade, não existe o bem absoluto. Nada é absoluto. Parafraseando cafonamente aquele filme com o Jet Lee (“Cão de Briga”ou coisa assim), “dentro de cada um de nós há dois lobos: um bom e um mau. Sobrevive aquele que você alimentar mais”.Além do bem e do mau estão nossas fraquezas. Aquilo que nos domina e nos impede de ser quem realmente somos e onde queremos chegar.


Uma das cenas mais emocionantes deste filme, para mim, é quando o rei brada, sob as provocações de Lionel, “EU TENHO VOZ!” e neste momento se dá conta de quem realmente é e de que pode, certamente, ser esta pessoa. E seu discurso é igualmente emocionante, não pelo discurso, não quero nem um pouco falar sobre o conteúdo político, histórico ou o que quer que seja deste filme, mas seu discurso é emocionante pois é o resultado de sua batalha pessoal, é a superação de um homem que lutou contra seus fantasmas durante uma vida inteira, é a revelação de quem ele realmente é e do que ele é capaz. E Lionel é o representante daquelas pessoas que, apesar das técnicas, da ciência, do conhecimento, também considera o self que está por trás da armadura que vemos e  que mostramos. Sabe que cada um tem uma razão para ser como é. Cada um tem uma razão para ser como é. Sem julgamento.


Não sei se eu sou boba ou apenas alguém que acredita nas pessoas. Não sei se sou boba por ser alguém que acredita nas pessoas, mas tantas lágrimas caíram ao ouvir o discurso do rei, ao ver os aplausos para o discurso do rei. É que eu realmente me encanto com a superação humana, me excito com o desbravar do potencial individual, me sinto realmente feliz quando vejo alguém conquistar sua liberdade pessoal quando supera os limites do corpo e da alma, mesmo que de mentirinha como acontece no cinema.


Não sei se você, leitor, acredita no que vou dizer agora ou simplesmente quer isso para você, mas em nome da minha liberdade individual, do meu direito de ser quem eu sou e expressar minhas convicções eu te digo: existe dentro de você algo mais precioso que as maiores riquezas, algo mais misterioso que o bem e o mau, algo mais fantástico do que tudo que os olhos são capazes de ver, algo mais surpreendente do que todas as maravilhas do mundo material, algo mais importante do que tudo o que te importa hoje: existe você. Então corra, pois o tempo voa. Vá atrás de quem você realmente é. Lute pelo que realmente importa, que é saber quem você é e de tudo o que você é capaz. Mas, cuidado: não vá se perder por aí, pois no meio do caminho há um ego, há um ego no meio do caminho.


Death Proof


Assim: Tarantino é sempre tesão em dose dupla. os filmes são sempre incríveis e as trilhas idem.

Já tava vendo o tamanho do texto pra falar de Death Proof, então eu vou transformar isso numa lista. Pode ser?

1. tem Kurt Kussel (e ele tá impagável)
2. tem mulheres lindas, gostosas, duro na queda e com muito bom gosto musical
3. tem uma das melhores cenas de batida de carro que eu já vi (senão a melhor - o primeiro vídeo abaixo)
4. tem a revanche das garotas mais bem bolada e bem trilhada que eu já vi ( o segundo vídeo abaixo)
5. tem Ennio Morricone (só uma mas tá valendo)
6. tem a canja do Tarantino dando pinta como dono do bar
7. tem uma das melhores cenas de dança de buatch (que só perde pra da Salma Hayek em Um Drink no Inferno - o terceiro vídeo abaixo)
8. tem uma das melhores cenas de perseguição de carros que eu já vi (senão a melhor)
9. tem  Eli Roth
10. agora olha a foto lá em cima, a mina de franjinha saindo do carro. olhou? agora repara no outdoor lá no fundo.

Achei assunto pra mais uma lista: curiosidades tarantinescas

1. Jungle Julia aparece num daqueles outdoors com a roupa de abelha da Uma Thurman em Kill Bill
2. a mina que faz as cenas em cima do capô do carro, Zoe Bell, não usou dublê
3. sabe a cena das 4 tomando café da manhã: tem uma igual em Cães de Aluguel
4. os policiais que investigam a morte das 3 garotas são os mesmo de Kill Bill
5. Death Proof é parte de um projeto de dois filmes, o GrindHouse, Robert Rodriguez e seu Planeta Terror.

Não falo mais nada.






9 songs


Nove canções, nove fodas.

Nine Songs é um dos filmes mais belos que já assisti. 

Aí você me fala: mas é um filme pornô! Êh-êh, calma lá! Entre o pornô e o erótico existe uma distância abissal e é no erótico que está o belo. E não é um filme de sexo explícito, é um filme com sexo explícito. Olha só a diferença.

É belo porque é íntimo, é sagrado, é bem filmado, é bem interpretado, é bem iluminado e fotografado. E muitíssimo bem trilhado, por isso está aqui. Estamos falando literalmente de sexo, drogas e roquenrol no alge da poesia que os envolve.

O filme causou fera quando foi lançado. Blasfemaram até. A lindíssima Margo Stilley sofreu altos preconceitos, foi perseguida na rua, seus irmãos pequenos tiveram que mudar de escola... esse tipo de coisa que só gente de cabeça pequena e tacanha é capaz de pensar e de fazer. Mesmo assim, os amantes do circuito alternativo como nós agradecem Michael Winterbotton por nos beneficiar com algo tão revolucionário e subversivo para os padrões da crítica cinematográfica britãnica. Queremos sempre mais!

A estudante de intercâmbio americana e o climatólogo britânico passam um período dividindo as máximas da intimidade de um casal que - no caso deles - tem prazo de validade e (talvez) por isso vivem tão intensa e verdadeiramente sua relação.

E é exatamente isso que tem me deixado a suspirar nos últimos meses, "e que venho até remoçando, me pego cantando sem mais nem por que". Poder compartilhar momentos de puro deleite sem pudor, sem medo, sem frescura, com entrega, vício, tesão, paixão. E por que não resumir naquela palavra de quatro letras que a gente não sabe quando é a hora certa de falar? E em 9 Songs, além dessa afinidade toda também tem outra coisa que me prende igualmente que é a música. Só me falta a oportunidade de compartilhar ao vivo como eles fazem indo juntos aos shows das suas bandas preferidas, mas isso é só uma questão de tempo.

Queria que tivesse por aqui uma casa de shows como a Brixton Academy, onde eles vão. Tão lindo, lá... E o legal do fime é que as 9 cenas de shows são reais. 

Curiosidade mais do que pertinente: o filme dura 69 minutos. 

Aí fica assim e na sequência dos acontecimentos:

Black Rebel Motorcycle Club - Wathever Happened To My Rock and Roll
The Von Mondies - C'mon, C'mon
Elbow - Fallen Angel
Primal Scream - Movin' On Up
Dandy Warhos - You Were Last High
Super Fury Animals - Slow Life
Franz Ferdinand - Jacqueline
Michael Nyman - Nadia
Black Rebel Motorcycle Club - Love Burns





domingo

Waking Life




Já devo ter visto esse filme umas 7 vezes nos últimos 4 ou 5 anos.

Quem viu sabe do que eu to falando, pq não dá pra digerir tudo logo de cara. São tantas teorias sobre tanta coisa que passa pela minha cabeça desde o dia em que eu nasci que qdo assisti pela primeira vez fiquei maravilhada com a oportunidade de pensar sobre tudo isso de várias e várias formas.

Ok, estou falando sobre existencialismo, estados alterados da mente, manifestações astrais, ciência, inconsciência, caos, acaso e todos os assuntos mais subjetivos que permeiam o pensamento humano enquanto ser que não sabe muito bem o por que de tudo isso aqui.

É uma loucura porque do começo ao fim o protagonista - que tem visto o mundo com os olhos de quem pensa - entra numas de querer entender a realidade e a cada figura que tromba em seu caminho (por coincidência?) vai tropeçando por Platão, Nietzche, Jean Paul Sartre, por teorias da física quântica e opiniões de um senso não comum. é coisa de gente que abre a mente e deixa as idéias entrarem e saírem, saca?

E o diretor, o Richard Linklater acertou em tudo. Primeiro no fato de ter feito o filme em duas etapas: primeito filmou e depois, com uma equipe de 30 pessoas transformou em animação. Acertou na escolha dos atores (genial por o Ethan Hawke e a Julie Delpy como casal na mesma cena, já que ele já dirigiu os dois nos fantásticos  Antes do Amanhecer e Depois do Por do Sol), acertou na forma como conduziu o roteiro e, lógico, acertou na trilha sonora. A trilha é do Glover Gil, executada pela Tosca Tango Orchestra, maravilhosa.

Filme pra quem alcança altas sinapses. Só falo isso.





sábado

The Commitments


E aí que uns 15 dias atrás me deu a maior vontade de rever esse filme. Putz, do caralho, né?

Tinha tanta coisa que eu não lembrava mais, me diverti pra caramba.

Pra quem não viu (e olha que é véio, heim? de 91, vi quando era criança), é um cara de uns 21 anos, em Dublin, que decide produzir uma banda porque chega à conclusão de que está faltando Soul Music na terra dele. Figura, diz que eles são os negros da Irlanda e abre inscrição para recrutar os músicos. Baixista e guitarrista ele já tem, sào amigos e num casamento, observando um cara cantando bêbado ao microfone roubado da banda, decide quem será seu vocalista. A escolha não poderia ser melhor , o cara fica pau-a-pau com o Wilson Pickett, tipo foda demais.

A seleção dos músicos é uma das partes mais divertidas do filme. Aparece de tudo um pouco, ele recebe as pessoas na casa dele, os pais são uns figuras também, um barato.

No fim das contas ele junta a nata e agora tem que ensinar os caras a apreciar o soul de corpo e alma (e soul!) e darem o melhor de si.

O filme é recheado de tudo aquilo que eu tenho paixão em ouvir, clássicos da Soul Music, James Brown, Aretha Franklin, Al Green, Otis Redding, Roy Head, Marthe Reeves e por aí vai. Tanta coisa que a OST é um álbum duplo, perfeito, que atravessa o tempo e faz qualquer um delirar.

A versão de Try a Little tenderness, que toca no final, pra  mim é melhor até que a original. Os caras mandam muito bem.

As backing vocals são um tesourinho à parte. Com suas dancinhas, o jeito de se vestirem, a forma como vão se homogenizando cada vez mais ao grupo, vão criando seu estilo, tornando-se simplesmente fundamentais pra formação da banda.

Afiadíssimos, começam a se apresentar em bares, passam por todos os conflitos naturais da convivência contínua e entram numa obsessão quando surge a possibilidade de tocarem com Wilson Pickett. Pura diversão.

Esse vale a pena ver outra vez de tempos em tempos. Delícia de filme, delícia de som.

Olha o chorinho aí pra dar água na boca.




Rachel Getting Married


Tava passando umas OSTs pra minha mãe outro dia e ela pirou nessa, que eu também piro demais. O filme também é muito bacana. A Anne Hathaway é a ovelha negra da família por todos os problemas que já teve com drogas e sua irmã está prestes a casar. Sob licença da clínica de rehab, reencontra a família para o casamento.

O casamento de Rachel é o tipo de coisa que eu adoraria pra mim. Juntaram por uns bons dias - como fazem os indianos - parentes e amigos mais próximos do casal para compartilhar momentos deliciosos durante os preparativos para a festa. Passam o tempo todo juntos, convivendo na mesma casa, dividindo as tarefas, comendo, cantando, lembrando histórias que envolvem o casal, brindando a vida, se curtindo.

 O casamento indiano altamente customizado aos gostos, paladares e estilos musicais deles, é uma mistura de bom gosto em todas as áreas. O pai da Rachel é produtor musical e o noivo é músico, assim como vários amigos deles são ligados ao meio musical. Os amigos que irão tocar na festa e e estão o tempo todo com seus instrumetos, ensaiando, curtindo e trilhando o filme.

O cara que faz o papel do noivo é o Tunde Adebimpe, do TV On The Radio, ele tá ótimo e canta Unknow Legend pra Rachel durante a cerimônia, em vez de dizer seus votos de matrimônio numa cena pra lá de encantadora.

Das poucas vezes em que pensei numa cerimônia de casamento perfeita, uma delas sem dúvida foi vendo esse filme. Sempre acreditei na importância dos rituais de passagem, me frustrei um pouco por não ter passado por uma dessas e acho que o casamento de Rachel é pra mim o mais próximo do que eu gostaria de ter um dia, que é na verdade o que eu sempre procuro fazer por mim: dividir o amor com pessoas que eu amo.

O roteiro é também cheio do drama pessoal da Anne Hathaway, o que enche um pouco o saco, mas a trilha sonora... ah... a trilha é incrível. Foi selecionada por Zafer Tawil e Donald Harrison, ambos músicos, o primeiro, palestino, deu o toque oriental e Donald, do jazz, cuidou do restante muito bem jazziando muito  entre outras músicas de preto sensacionais tipo uns reggaes, uns souls e o som delícia do Robyn Hitchcock. É pra ouvir direto, puta seleção variada e com muito bom gosto.

Vai pirando nessas duas aí embaixo.




domingo

Tetro


Tetro é o último filme do Coppola e digo sem titubear que é maravilhoso. É um filme forte, tocante, que te prende em cada tomada.

A fotografia de San Telmo, onde se passa o filme, é lindamente capturada em preto e branco. Vincent Gallo (ator, diretor, músico, mais conhecido por Brown Bunny e Os Bons Companheiros) por quem sou completamente apaixonada, foi a melhor escolha, assim como Maribel Verdú (fez E Sua Mãe Também. Lembra?).

Nele, o jovem Bennie, em passagem por Buenos Aires, decide visitar o irmão Tetro, que sumiu das vistas da família devido à um conturbado relacionamento com o pai. Mas Tetro já não é mais a mesma pessoa que Bennie conheceu e aos poucos e a contragosto vai tentando entender o que levou Tetro à essa fuga, ao isolamento, quem ele se tornou.

Parece que Coppola assume um novo estilo, não muito diferente de sua essência, mas parece ter uma maturidade mais simples para a bordar o dramamático. Mas é a tal simplicidade que te leva ao fundo do coração, sabe? Todo o sentimento.

A trilha sonora é ótima, pois como o filme se passa em Buenos Aires, é recheada de tangos e afins.

Abaixo, uma amostrinha das boas.

Le Concert


Posso dizer então que a trilha sonora é a alma de um filme.


É ela que faz a lágrima cair, um suspiro surgir, a respiração parar, o coração acelerar, o estômago contrair.


Neste filme incrível de Radu Mihaileanu, a trilha sonora me trouxe a maioria dessas emoções e me fez chorar copiosamente durante uma sinfonia de Tchaikossky.


Com um humor sensacional, sacadas muito inteligentes, me empolguei do começo ao fim.


Trata-se do maestro da antiga orquestra sinfônica Bolshoi, que há 30 anos se desfez durante a queda da URSS. Cada um foi pra um canto, uns mortos, outros exilados, outros simplesmente passaram a tocar a vida como puderam. O tal maestro, que não consegue viver longe do seu sonho de um dia voltar a reger sua orquestra, hoje é faxineiro do teatro e frustrado por não poder nem assistir aos ensaios da atual Cia Bolshoi.


Um dia ele intercepta um faz que chega para o diretor da Cia, convidando-os a participar de um grande evento no Châtelet Theater, em Paris.


O ex maestro não pensa duas vezes: se faz passar pelo diretor, fecha negócio e reúne a sua antiga Cia para o tal evento. E sua maior exigência aos organizadores do evento é que a famosa violinista Anne-Marrie Jacquet seja sua solista neste concerto. a violinista é brilhante interpretada por Mélanie Laurant, a Shoshanna (xô, xana!) de Bastardos Inglórios.


Mil coisas acontecem a partir daí. Da reunião dos músicos as confusões que se metem em Paris, até um lance muito do capcioso envolvendo a solista.


A trilha, já disse, é demais. Tem música cigana, judia, árabe e as sinfônicas que são de deixar qualquer um (que gosta) à flor da pele.


Deixo o trailler que já dá água na boca.


Au revoir!

quinta-feira

Viva Bird!



Essa é nova: trilha sonora de livro.


É que acabei de ler esse livro sensacional e não poderia deixar de comentar.


Viva Bird! Assassinato Em Tempo De Jazz é exatamente o que o título sugere.Evan Horne é um pianista de jazz clássico que se torna meio que um investigador da polícia por acaso. Grande amigo do Tenente Coop, já o ajudou a solucionar alguns casos tamanha sua perspicácia quando o assunto é música.


Desta vez Coop o procura quando um músico de Smooth Jazz é misteriosamente assassinado em seu camarim e as únicas pistas que que têm para investigar são a frase VIVA BIRD! escrita com sangue no espelho, uma gravação de Better git it in your soul, de Charles Mingus tocando sem parar e uma pena escondida dentro do estojo do saxofone da vítma.


Horne vai se enfiando até o pescoço neste e nos demais assassinatos que acontecem durante o thriller e ao  mesmo tempo vai nos dando uma deliciosa aula de jazz - suas particularidades, diferenças de estilo, curiosidades sobre os músicos (sabia que tem uma igreja John Coltrane em São Francisco?). A trama é cheia de mistério, paixão, passeios pela Califórnia e das ótimas sacadas muito bem humoradas do autor Bill Moody.


Bill Moody é baterista de jazz, DJ e crítico musical. Estudou em Berklee College, assim como o personagem principal deste livro. Escreveu também Um Caso de Chet Backer, que to louca pra ler (acho que a Tati tem, oba). Como todo seu bom gosto jazzistico, Bill recheia Viva Bird! com Dizzy Gilespie, Art Blakey, Charlie Parker ( o Bird), Coltrane, Lee Morgan, Chick Korea, Cannobal Adderley, Thelonious Monk, Miles Davis e outros feras. É pra ir lendo e ouvindo, lendo e ouvindo...


Então fui lendo e baixando os álbuns e canções comentados ao longo da trama, me envolvendo assim de uma forma muito íntima com os personagens e afinando meus ouvidos e repertório pra esse som que eu sempre gostei tanto.


Ótima leitura, ficadica: ouça Viva Bird! Se você é fã de jazz e literatura policial tanto quanto eu, vai se deliciar igualmente.

Abaixo, o som que rolava quando mataram a primeira vítima. Tã-tããããm!!!


E VIVA BIRD! VIVA! VIVA!

domingo

Los Abrazos Rotos


Acabo de me dar conta de que nunca escrevi nada sobre Almodóvar por aqui.

Acabei de assistir Los Abrazos Rotos e escolhi ele para preencher esta lacuna.

Belíssimo é a primeira coisa que me vem à cabeça. Depois penso em ternura, paixão, carinho, ciúmes, cumplicidade, talento, justiça.

O roteiro é muito bem elaborado. Dessa vez ele descreve com doçura a alma do homem (e hetero) pela pele de Mateo Blanco, ou Harry Caine, nome que passa a adotar depois do acidente.

Na verdade, não quero falar muito sobre ele porque acabei de assitir e ainda não consigo traduzir minhas emoções.

Digo que Blanca Portillo está estupenda, assim como o próprio lluis Omar. Digo que Penélope Cruz, que na minha opinião desta vez perde para Blanca Portillo, traduz toda a ternura de sua personagem e que a fotografia é belíssima, e não estou falando do habitual supercolorido. E digo também que Tamar Novas, além de ótimo ator é um colírio para os olhos que deixa qualquer Moura Brasil no chinelo.


e digo mais: a trilha obviamente é de Alberto Iglesias e desta vez me surpreendeu com uma canção da Cat Power trilhando uma cena belíssima. Arrasou, Alberto!

O filme que acontece dentro do filme é praticamente um pupurrí de todos os filmes do Almodóvar. Mostram pouquíssimas cenas, mas é como se fosse uma auto caricatura feita por ele próprio.

Pra fechar, tenho que dizer que a cena em que Mateo toca a TV para ver ao seu modo a cena do último beijo é de uma sensibilidade que somente Almodóvar pode ter.

Obrigada ao fofíssimo Maicon por me emprestar o DVD, já que eu estava praticamente me traindo por não ter assistido até agora.

Alta Fidelidade

Pense nas 5 coisas preferidas das sua vida.

Você seria mesmo capaz de classificar tudo em TOP 5? As músicas, os filmes, as pessoas, as situações...

Pois é. Assisti Alta Fidelidade na época em que o filme foi lançado e esse assunto voltou à tona recentemente. A trilha eu não tinha, tinha apenas a versão fodástica de Let's Get It On com o Jack Black, que a Tati me passou um tempo atrás, e que agracia o filme em determinada parte. Agora ouvi a trilha completa. Animal.

Tão delícia a trilha que logo me deu vontade de ver o filme outra vez e aí assisti e foi delícia completa.

Aí comecei a ler o livro que originou o filme.

Não teve jeito, só faltava blogar. E ca estamos.

John Cusack está ótemo no papel de Rob, dono de uma loja de discos e que cultiva o hábito de classificar tudo em TOP 5. Tarefa difícil essa, na verdade. Costumava jogar as coisas no meu TOP 10, até porque a vida é repleta de coisas boas que vão nos atropelando pelo caminho. Reduzir tudo isso pra 5 fica difícil.

É um filme muito bacana, adoro o fato de ter e falar de música o tempo todo, afinal, boa parte dele se passa na loja de discos. Também adoro como o filme se passa, em forma de narrativa do personagem principal, igualzinho ao livro. É tudo muito bom.

Adoro como Rob pensa sobre as coisas, adoro o jeito como o ciúme se manifesta nele, adoro o apartamento dele, como abordam a crise da meia idade, os diálogos com os clientes da loja, a cena do tal do Ian indo lá na loja falar com ele me fez rir litros, as piadas inteligentes. Tipo, é tudo muito, muito bom.

Sabe uma curiosidade legal? O próprio John Cusack participa da elaboração do roteiro.

E a trilha, ah! my friend, a trilha é demais, neh. É praticamente mais um personagem do filme. E foi escolhida a dedo pelo Carter Burwell e pelo Howard Shore. os dois são meus tesourinhos e por isso não me surpreendi quando descobri que os créditos para Alta Fidelidade iriam pra eles. Carter Burwell foi quem trilhou todos os filmes dos Cohen (falei dele em Um Homem Sério) e Howard Shore trilhou O Aviador (ainda preciso comentar essa trilha, é muito foda), O Silêncio dos Inocentes, Dogma, Seven.


Já sabe: veja, ouça e me conta o que achou.

Ps. Adoro o cartaz do filme.





Up in the Air ou (Minha Vida Entre parênteses)

Pois é minha gente, olha a situação desse cara: o emprego dele é viajar o mundo pra demitir pessoas. Sim, isso mesmo. Ele faz o trabalho sujo. Vai de empresa a empresa mundo afora pra fazer o que a maioria dos chefes não tem muito estômago pra fazer.

Lembrei da primeira demissão que precisei fazer: não concordava com o motivo dela e pior, a pessoa era próxima a mim. Ela ficou mal, chorou, eu chorei, nos abraçamos.

Infelizmente agora aprendi como fazer e não me envolver demais.

Mas o emprego do cara tem um lado que me atrai. Essa coisa de não parar em lugar nenhum, de viver por aí, sempre me passa pela cabeça. No fundo eu sei bem o que é isso; como para o personagem do filme, não passa de uma fuga.

Esse filme surgiu de um livro, coisa que tem me atraído muito recentemente. Fuçando num sebo, dia desses, achei o comprei O Leitor e Correndo com Tesouras. Já tinha ganhado o Alta Fidelidade (presente perspicaz, inclusive), o que me despertou para o assunto. Acho que começa aí uma boa coleção: a de livros que deram origem a filmes. Junto, então, três grandes paixões: músicas, livros e filmes.

Me identifiquei com diversas situações do filme. Essa coisa de desacreditar no casamento, em ter filhos, cachorro e tudo isso já foi uma das minhas convicções. Hoje penso diferente. Em todos os sentidos. Acredito no casamento, filhos, mas não desse jeito quadradinho. Até porque estou looonge de ser uma pessoa quadrada. Tudo na minha vida é fora do padrão.

Mas o que me pegou mesmo é quando ele percebe que encontrou sua cara metade e bate à sua porta. E dá de frente com uma realidade totalmente frustrante. Quando ela diz que ele é um parênteses em sua vida, cara... há tempos não me sentia tão sozinha. Eu, que já fui Helena encaixotada, na minha atual situação às vezes me pego entrando no caixote novamente. Foda.

Mas voltemos.

Ultimamente tenho feito algo bem diferente. Estou ouvindo os filmes antes de assisti-los. Baixei uma tonelada de soundtracks e ouvi todas cuidadosamente pra depois ver os filmes. Divertido isso. Havia feito uma vez e me decepcionei, por isso estava arisca pra tentar novamente. Um tempo atrás baixei sem querer a trilha de um filme chamado The Last Kiss. É um score. Uma das minhas OSTs preferidas da minha ampla coleção. É demais, encantadora, ouvia sem parar. Aí assiti o filme e achei ele péssimo! Mas dessa vez foi diferente. Estou adorando cada um.

Com Up in The Air foi assim: comecei a ver o filme e logo de cara curti o som e pus a trilha pra baixar. Mas dormi antes que o filme engrenasse, só que a trilha já tava na mão. Passei uma semana ouvindo e adorando cada música. Só depois vi o filme e adorei também, apesar das sensações que descrevi.

Não posso deixar de comentar que Up In The Air (ou Amor Sem Escalas, como foi traduzido) é do Jason Reitman, que dirigiu Juno também.

A trilha, que foi impecavelmente selecionada por Rolfe Kent, que trilhou Sideways e a abertura da série Dexter. Não preciso falar mais nada, né? Mas digo que tem Sharon Jones, Grahan Nash, Elliot Smith, Roy Buchanan, duas composições do próprio Rolfe e outras cositas mais que vão agraciar seus ouvidos. Muito, muito boa.

Então ta. Um beijo.






segunda-feira

Comer, Rezar, Amar





" Às vezes, perder o equilíbrio por amor faz parte de viver a vida em equilíbrio"

Passei um tempo querendo e não querendo ler esse livro porque tenho um certo preconceito com best sellers.

Aí o Neto viu o filme, se encantou e disse que eu tinha porque tinha que ver. Como eu confio em seu bom gosto e ele tem se tornado alguém capaz de me me entender muito bem, resolvi pular o livro e ir direto ao filme.

Ah, mas que putaqueopariu! Ri, chorei, me identifiquei demaaaaais da conta!

E tem mais. né: dirigido pelo Ryan Murphy, do Correndo Com Tesouras e com uma trilha encantadora.

Pra começar que o Eddie Vedder compôs uma música linda de viver especialmente pro filme e gravou outra com ninguém menos que Nusrat Fateh Ali Khan. Tipo, demais.

Na trilha também tem duas belíssimas do Neil Young, tem Marvin Gaye, Josh Rousie, Bebel e João Gilberto, Sly ans The Family Stone, Gato Barbieri, Dario Marianelli, Michael Tyabji. Você vai se apaixonar.

Acho também que a Julia Roberts nunca esteve tão bonita.

Mas olha só, não é apenas mais um filme de menina, sabe?

É um filme de paixão. De entrega. De autoconhecimento. De amor.

É que eu tenho a cabeça no lugar e nenhum tostão no bolso, senão já teria pego uma mochila e saído por aí. Isso vai acontecer, mas não agora.

Acho que a minha palavra de ordem de uns tempos pra cá tem sido CORAGEM.

Coragem pra tomar grandes decisões, coragem pra falar sobre meus sentimentos abertamente, coragem pra me meter em situações que eu não sei onde vão me levar, coragem pra entrar num jogo pra ganhar, coragem pra fazer coisas ainda não feitas, coragem pra viver perigosamente, coragem pra reconhecer erros, coragem pra buscar quem eu sou.

E essa busca, acho que essa busca por si próprio é natural do ser humano. Porque a gente se perde com muita facilidade.

Sei bem como é essa coisa dela se ver no relacionamento perfeito, o marido perfeito, e não ter mais forças pra deitar na própria cama. Porque ela se desencontrou em algum momento. depois ela encontra um cara supimpa, que mostra outro mundo pra ela, faz ela olhar pra dentro de si. E acho que era essa a única missão dele na vida dela. Porque mexeu tanto que ela não poderia mais continuar com ele. Porque ainda não se achara. Tinha que continuar procurando.

E assim que ela se encontra, finalmente encontra seu grande amor e olha só: pensa que ainda não está pronta para o amor. Porque não aceitou o amor por si própria. Coisa louca isso.

É que falar é fácil, né? Viver é que é foda.

Eu tava falando hoje do quanto eu sou movida por paixões. Se não fosse apaixonada pela vida, por gente, por mim mesma, seria tudo tão mais difícil.

E quando encontro alguém apaixonante eu me jogo mesmo justamente por conta do que tava falando outro dia por aqui, tipo, e se hoje for o último dia da minha vida?

Mas é que às vezes a paixão dói um tanto no coração. Olha que engraçado, eu que nunca fui de sentir ciúmes, desses danados de ruim mesmo, senti uma pontada aguda dele hoje mesmo. E me espantei com isso. Que será que tava me acontecendo? Fiquei de cara comigo mesma, uma sensação um tanto incômoda. Passei a mão num cigarro que alguém esqueceu aqui ontem, peguei no isqueiro mas não acendi (boa, to conseguindo resistir bravamente!). Aí pensei: que que o Caligaris fala mesmo sobre o ciúmes? Fui lá no twitter do cara e dou com essa frase: "Alguns não aceitam que, na vida do outro, um desejo qualquer se manifeste. Preferem amar cadáveres". E, na sequência, essa: "Alguns se preocupam em marcar o território e, com isso, se esquecem de percorrê-lo e apreciá-lo". Depois mais essa: "Muitos esperam ter razões para ser ciumentos. Só conseguem amar e desejar na insegurança, na suspeita de estar sendo traídos" e por fim: "Poucos amam a liberdade total de seu parceiro ou parceira. Paradoxo: quando isso é recíproco, a fidelidade é tb total".

Valeu, Contardus. Um passar de olhos por poucas frases e já pude voltar ao normal. E pro meu normal, viver é se permitir e permitir que o outro se permita. Aí, pra fechar, vem o Raul:"Amor só dura em liberdade".

Assim, não posso me deixar levar pela tristeza. Não mesmo. Quando ela vem, eu deixo ela ficar um tiquinho, mas o suficiente pra eu lembrar do quanto o oposto é bem melhor.


Por que eu to falando disso? Porque é isso que acontece quando vejo filmes. As coisas saem de dentro de mim e eu preciso lidar com elas. A arte me emociona ao ponto de revirar minha casinha, sabe?

E a personagem desse filme lindo, em dados momentos, serviu-me de espelho e só alimentou ainda mais minha expectativa de sair por aí, em busca de não sei o que, em busca talvez de mim mesma. Mas pensando nisso, penso em outra coisa: será que essa necessidade quer dizer que não estou feliz? Mas me sinto tão feliz. Acho que no fundo me sinto é um tanto frustrada por estar sozinha. Mas não era o que eu queria? era, até pensar que poderia não estar e isso seria um máximo. Mas não dá pra ser do jeito que eu quero. Seria eu, então, uma egoista? Me rendendo às necessidades do meu próprio ego? Oras, mas é errado então querer que as coisas dêem certo?

Espero que esse vômito me sirva de alguma coisa, espero que eu possa ler esse texto amanhã e depois e depois e já ter pelo menos metade dessas idéias mais claras na minha cabeça. Porque hoje, nesse exato momento, eu vivo na corda bamba da dúvida e da insegurança. Talvez o que me aflija seja justamente não ter o controle da situação. Talvez seja mais fácil encarar isso como mais um teste de paciência e auto confiança. Vou encarar assim! Já deu um certo alívio... Visto que hoje já comi e rezei, já tenho planos interessantes para os próximos dias. = ]