sexta-feira

Broken Flowers - sobre jazz, a saga do feriado e don juans


Terça-feira eu cheguei em casa, com o Neto, depois de uma maratona em busca de um bar decente e aberto aqui pelas quebradas do baixo augusta. Era feriado, fazia muito frio com uma maldita garôa intermitente.

A a maior dificuldade foi escolher um título. Munidos de doritos, charge e coca-cola, sacamos de uma enorme pilha de DVDs um que tinha o Bill Murray na capa.  "Já gosto!" animou o Neto. Olha, é do Jim Jarmusch! "Gosto mais ainda!" Neto se animou de novo.

Broken Roses... nunca tinha ouvido falar e também não me lembrava da última vez que vi algo do Jim Jarmusch. Acho que foi Down By Law, com meu pai... Ah, mas o Bill Murray, né!

O filme começa como se estivesse terminando: com o nome de TODA a galera que participa à frente e por trás das câmeras. Aí começa a aparecer o nome dos atores principais: Jeffrey Right, Sharon Stone, Frances Conroy, Jessica Lange, Tilda Swinton, Julie Delpy, Cloë Sevigny e Mark Webber. Nem falo nada, né...

A história é a seguinte. O Bill Murray, que no filme se chama Don e é um baita dum Don Juan, acaba de ser largado com cara de paisagem, no sofá, por sua atual namorada ou coisa do tipo, que sai pela porta de mala e cuia, linda e loura. Um pouco depois ele recebe uma carta anônima, em papel e envelope dor-de-rosa, junto com um buquê de rosas da mesma cor.

A carta, enviada por uma mulher anônima, dizia que há 20 anos ele engravidou esta mulher que agora escreve pra ele e que, por todos esses anos guardou esse segredo, mas que agora decidiu revelar ao seu filho, que está a caminho de encontrar o pai.

Pausa dramática.

Aconselhado por um amigo, Don decidi ir atrás das mulheres que namorou 20 anos atrás e, antes da sua partida, o amigo lhe oferece um CD de músicas.  'Já ouviu Mulatu Astatke? " pergunta o amigo. "É um cara da etiópia que toca Jazz. Gravei pra você ouvir enquanto viaja. "

Ah, vá! Quando ouvi isso eu desacreditei. Quem me apresentou esse som foi o Bah, meu lorinho lindo de BH, ano passado. Eu pirei no som e ouço direto. É um jazz diferente (também, o cara é da Etiópia), bem intimista, com a metaleira do jazz e uma percussão bapho, mas sem ser vibrante como o acid jazz, nem alegre como nas big bands e muito menos careta como aquela porcaria do smooth jazz. As músicas seguem um estilo, se parecem muito umas com as outras, mas não me canso de ouvir.
Quem frequenta o Dona Teresa vai lembrar desse som. Essa aí embaixo é a clássica que ta na playlist do bar e na finada Lounge Against The Machine eu sempre tocava uma ou outra.

Mas eis que o atordoado Don cruza céus e terras ouvindo o CD que o amigo gravou e assim o filme é todinho trilhado por Mulatu Astatke do começo ao fim.

Cada ex que Don encontra o recebe de uma forma. Vinte anos se passaram, cada uma mudou tanto que ele mal reconhece, mas no final de cada encontro fica expresso em sua cara a insatisfação de não ter construído sua vida de outra maneira (pois todo Don Juan nunca constrói nada além de seu ego falido), o medo de que uma delas possa ser a mãe de seu filho e a certeza de ter sido um calhorda na vida de cada uma delas.

Assim, se você não ficou afim de ver o filme, ouça Mulatu Astatke. Se não quiser conhecer a música, veja o filme. Os dois são deliciosos. Juntos, então, ficou uma belezura.