domingo

Waking Life




Já devo ter visto esse filme umas 7 vezes nos últimos 4 ou 5 anos.

Quem viu sabe do que eu to falando, pq não dá pra digerir tudo logo de cara. São tantas teorias sobre tanta coisa que passa pela minha cabeça desde o dia em que eu nasci que qdo assisti pela primeira vez fiquei maravilhada com a oportunidade de pensar sobre tudo isso de várias e várias formas.

Ok, estou falando sobre existencialismo, estados alterados da mente, manifestações astrais, ciência, inconsciência, caos, acaso e todos os assuntos mais subjetivos que permeiam o pensamento humano enquanto ser que não sabe muito bem o por que de tudo isso aqui.

É uma loucura porque do começo ao fim o protagonista - que tem visto o mundo com os olhos de quem pensa - entra numas de querer entender a realidade e a cada figura que tromba em seu caminho (por coincidência?) vai tropeçando por Platão, Nietzche, Jean Paul Sartre, por teorias da física quântica e opiniões de um senso não comum. é coisa de gente que abre a mente e deixa as idéias entrarem e saírem, saca?

E o diretor, o Richard Linklater acertou em tudo. Primeiro no fato de ter feito o filme em duas etapas: primeito filmou e depois, com uma equipe de 30 pessoas transformou em animação. Acertou na escolha dos atores (genial por o Ethan Hawke e a Julie Delpy como casal na mesma cena, já que ele já dirigiu os dois nos fantásticos  Antes do Amanhecer e Depois do Por do Sol), acertou na forma como conduziu o roteiro e, lógico, acertou na trilha sonora. A trilha é do Glover Gil, executada pela Tosca Tango Orchestra, maravilhosa.

Filme pra quem alcança altas sinapses. Só falo isso.





sábado

The Commitments


E aí que uns 15 dias atrás me deu a maior vontade de rever esse filme. Putz, do caralho, né?

Tinha tanta coisa que eu não lembrava mais, me diverti pra caramba.

Pra quem não viu (e olha que é véio, heim? de 91, vi quando era criança), é um cara de uns 21 anos, em Dublin, que decide produzir uma banda porque chega à conclusão de que está faltando Soul Music na terra dele. Figura, diz que eles são os negros da Irlanda e abre inscrição para recrutar os músicos. Baixista e guitarrista ele já tem, sào amigos e num casamento, observando um cara cantando bêbado ao microfone roubado da banda, decide quem será seu vocalista. A escolha não poderia ser melhor , o cara fica pau-a-pau com o Wilson Pickett, tipo foda demais.

A seleção dos músicos é uma das partes mais divertidas do filme. Aparece de tudo um pouco, ele recebe as pessoas na casa dele, os pais são uns figuras também, um barato.

No fim das contas ele junta a nata e agora tem que ensinar os caras a apreciar o soul de corpo e alma (e soul!) e darem o melhor de si.

O filme é recheado de tudo aquilo que eu tenho paixão em ouvir, clássicos da Soul Music, James Brown, Aretha Franklin, Al Green, Otis Redding, Roy Head, Marthe Reeves e por aí vai. Tanta coisa que a OST é um álbum duplo, perfeito, que atravessa o tempo e faz qualquer um delirar.

A versão de Try a Little tenderness, que toca no final, pra  mim é melhor até que a original. Os caras mandam muito bem.

As backing vocals são um tesourinho à parte. Com suas dancinhas, o jeito de se vestirem, a forma como vão se homogenizando cada vez mais ao grupo, vão criando seu estilo, tornando-se simplesmente fundamentais pra formação da banda.

Afiadíssimos, começam a se apresentar em bares, passam por todos os conflitos naturais da convivência contínua e entram numa obsessão quando surge a possibilidade de tocarem com Wilson Pickett. Pura diversão.

Esse vale a pena ver outra vez de tempos em tempos. Delícia de filme, delícia de som.

Olha o chorinho aí pra dar água na boca.




Rachel Getting Married


Tava passando umas OSTs pra minha mãe outro dia e ela pirou nessa, que eu também piro demais. O filme também é muito bacana. A Anne Hathaway é a ovelha negra da família por todos os problemas que já teve com drogas e sua irmã está prestes a casar. Sob licença da clínica de rehab, reencontra a família para o casamento.

O casamento de Rachel é o tipo de coisa que eu adoraria pra mim. Juntaram por uns bons dias - como fazem os indianos - parentes e amigos mais próximos do casal para compartilhar momentos deliciosos durante os preparativos para a festa. Passam o tempo todo juntos, convivendo na mesma casa, dividindo as tarefas, comendo, cantando, lembrando histórias que envolvem o casal, brindando a vida, se curtindo.

 O casamento indiano altamente customizado aos gostos, paladares e estilos musicais deles, é uma mistura de bom gosto em todas as áreas. O pai da Rachel é produtor musical e o noivo é músico, assim como vários amigos deles são ligados ao meio musical. Os amigos que irão tocar na festa e e estão o tempo todo com seus instrumetos, ensaiando, curtindo e trilhando o filme.

O cara que faz o papel do noivo é o Tunde Adebimpe, do TV On The Radio, ele tá ótimo e canta Unknow Legend pra Rachel durante a cerimônia, em vez de dizer seus votos de matrimônio numa cena pra lá de encantadora.

Das poucas vezes em que pensei numa cerimônia de casamento perfeita, uma delas sem dúvida foi vendo esse filme. Sempre acreditei na importância dos rituais de passagem, me frustrei um pouco por não ter passado por uma dessas e acho que o casamento de Rachel é pra mim o mais próximo do que eu gostaria de ter um dia, que é na verdade o que eu sempre procuro fazer por mim: dividir o amor com pessoas que eu amo.

O roteiro é também cheio do drama pessoal da Anne Hathaway, o que enche um pouco o saco, mas a trilha sonora... ah... a trilha é incrível. Foi selecionada por Zafer Tawil e Donald Harrison, ambos músicos, o primeiro, palestino, deu o toque oriental e Donald, do jazz, cuidou do restante muito bem jazziando muito  entre outras músicas de preto sensacionais tipo uns reggaes, uns souls e o som delícia do Robyn Hitchcock. É pra ouvir direto, puta seleção variada e com muito bom gosto.

Vai pirando nessas duas aí embaixo.




domingo

Tetro


Tetro é o último filme do Coppola e digo sem titubear que é maravilhoso. É um filme forte, tocante, que te prende em cada tomada.

A fotografia de San Telmo, onde se passa o filme, é lindamente capturada em preto e branco. Vincent Gallo (ator, diretor, músico, mais conhecido por Brown Bunny e Os Bons Companheiros) por quem sou completamente apaixonada, foi a melhor escolha, assim como Maribel Verdú (fez E Sua Mãe Também. Lembra?).

Nele, o jovem Bennie, em passagem por Buenos Aires, decide visitar o irmão Tetro, que sumiu das vistas da família devido à um conturbado relacionamento com o pai. Mas Tetro já não é mais a mesma pessoa que Bennie conheceu e aos poucos e a contragosto vai tentando entender o que levou Tetro à essa fuga, ao isolamento, quem ele se tornou.

Parece que Coppola assume um novo estilo, não muito diferente de sua essência, mas parece ter uma maturidade mais simples para a bordar o dramamático. Mas é a tal simplicidade que te leva ao fundo do coração, sabe? Todo o sentimento.

A trilha sonora é ótima, pois como o filme se passa em Buenos Aires, é recheada de tangos e afins.

Abaixo, uma amostrinha das boas.

Le Concert


Posso dizer então que a trilha sonora é a alma de um filme.


É ela que faz a lágrima cair, um suspiro surgir, a respiração parar, o coração acelerar, o estômago contrair.


Neste filme incrível de Radu Mihaileanu, a trilha sonora me trouxe a maioria dessas emoções e me fez chorar copiosamente durante uma sinfonia de Tchaikossky.


Com um humor sensacional, sacadas muito inteligentes, me empolguei do começo ao fim.


Trata-se do maestro da antiga orquestra sinfônica Bolshoi, que há 30 anos se desfez durante a queda da URSS. Cada um foi pra um canto, uns mortos, outros exilados, outros simplesmente passaram a tocar a vida como puderam. O tal maestro, que não consegue viver longe do seu sonho de um dia voltar a reger sua orquestra, hoje é faxineiro do teatro e frustrado por não poder nem assistir aos ensaios da atual Cia Bolshoi.


Um dia ele intercepta um faz que chega para o diretor da Cia, convidando-os a participar de um grande evento no Châtelet Theater, em Paris.


O ex maestro não pensa duas vezes: se faz passar pelo diretor, fecha negócio e reúne a sua antiga Cia para o tal evento. E sua maior exigência aos organizadores do evento é que a famosa violinista Anne-Marrie Jacquet seja sua solista neste concerto. a violinista é brilhante interpretada por Mélanie Laurant, a Shoshanna (xô, xana!) de Bastardos Inglórios.


Mil coisas acontecem a partir daí. Da reunião dos músicos as confusões que se metem em Paris, até um lance muito do capcioso envolvendo a solista.


A trilha, já disse, é demais. Tem música cigana, judia, árabe e as sinfônicas que são de deixar qualquer um (que gosta) à flor da pele.


Deixo o trailler que já dá água na boca.


Au revoir!

quinta-feira

Viva Bird!



Essa é nova: trilha sonora de livro.


É que acabei de ler esse livro sensacional e não poderia deixar de comentar.


Viva Bird! Assassinato Em Tempo De Jazz é exatamente o que o título sugere.Evan Horne é um pianista de jazz clássico que se torna meio que um investigador da polícia por acaso. Grande amigo do Tenente Coop, já o ajudou a solucionar alguns casos tamanha sua perspicácia quando o assunto é música.


Desta vez Coop o procura quando um músico de Smooth Jazz é misteriosamente assassinado em seu camarim e as únicas pistas que que têm para investigar são a frase VIVA BIRD! escrita com sangue no espelho, uma gravação de Better git it in your soul, de Charles Mingus tocando sem parar e uma pena escondida dentro do estojo do saxofone da vítma.


Horne vai se enfiando até o pescoço neste e nos demais assassinatos que acontecem durante o thriller e ao  mesmo tempo vai nos dando uma deliciosa aula de jazz - suas particularidades, diferenças de estilo, curiosidades sobre os músicos (sabia que tem uma igreja John Coltrane em São Francisco?). A trama é cheia de mistério, paixão, passeios pela Califórnia e das ótimas sacadas muito bem humoradas do autor Bill Moody.


Bill Moody é baterista de jazz, DJ e crítico musical. Estudou em Berklee College, assim como o personagem principal deste livro. Escreveu também Um Caso de Chet Backer, que to louca pra ler (acho que a Tati tem, oba). Como todo seu bom gosto jazzistico, Bill recheia Viva Bird! com Dizzy Gilespie, Art Blakey, Charlie Parker ( o Bird), Coltrane, Lee Morgan, Chick Korea, Cannobal Adderley, Thelonious Monk, Miles Davis e outros feras. É pra ir lendo e ouvindo, lendo e ouvindo...


Então fui lendo e baixando os álbuns e canções comentados ao longo da trama, me envolvendo assim de uma forma muito íntima com os personagens e afinando meus ouvidos e repertório pra esse som que eu sempre gostei tanto.


Ótima leitura, ficadica: ouça Viva Bird! Se você é fã de jazz e literatura policial tanto quanto eu, vai se deliciar igualmente.

Abaixo, o som que rolava quando mataram a primeira vítima. Tã-tããããm!!!


E VIVA BIRD! VIVA! VIVA!